PERDOAR NOS MANDA DEUS
Há quatro anos, o futuro promissor de um aprendiz de cronista esteve por um triz.
A bola sete, a publicação de um simulacro de decreto governamental, com todas os indicativos, ferramentas e pinta de tratar-se de peça de ficção, facilmente reconhecível, e para que não restassem dúvidas, ao final, entre colchetes, a informação que se tratava de uma minuta, documento nunca assinado e publicado, como sói acontecer.
O clima pesado e a fé renovada em orações e promessas, para a onda que já quebrava em outras praias, não chegasse aos nossos 400km de costa, transformaram o textículo que só pretendia um pouco de humor sutil, no ambiente carregado de dúvidas, incertezas e medo.
Uma tênue crítica ao governo do estado por haver publicado um primeiro e tímido decreto de enfrentamento da pandemia há pouco reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, cujas medidas mais drásticas foram a implantação do expediente corrido nas suas repartições e a suspensão das aulas das escolas que, há dias, já estavam sem elas, pela greve anual dos professores.
Acusado de implantar terrorismo e de imitador barato de Orson Welles, o locutor que ainda continua vos falando, teve de ocupar, no mesmo dia, o mesmo espaço e dar o mesmo destaque, a uma humilhante (para os obtusos novos leitores) retratação:
Como a lei bamerindus continuou vigendo, o tempo passou, o tempo voou e a vidinha na província continua numa boa.
Depois de duas inaugurações, o Castelo Keulen recebe turistas e seus assaltantes.
A biblioteca teve festa, sem ter entrado em operação, dizem as ferinas, por falta de livros.
O teatro voltou aos tempos de glória e interdições pelas chuvaradas nas marés enchentes.
O novo normal não trouxe a revogação de todas as condenações, e prescrição das penas impostas aos blogueiros dissidentes, por decurso de prazo.
Jurisprudência é o que não falta nos tribunais superiores.
(Atualização de texto publicado em 17/03/2022)
excelente cronica.