27 de abril de 2024
Memória

PERDOAR NOS MANDA DEUS

¡Perdonar nos manda Dios! (1895) Luis García Sampedro- Museu Nacional do Prado, Madri


Há quatro anos, o futuro promissor de um aprendiz de cronista esteve por um triz.

A bola sete, a publicação de um simulacro de decreto governamental, com todas os indicativos, ferramentas e pinta de tratar-se de peça de ficção, facilmente reconhecível, e para que não restassem dúvidas, ao final, entre colchetes, a informação que se tratava de uma minuta, documento nunca assinado e publicado, como sói acontecer.

O clima pesado e a fé renovada em orações e promessas, para a onda que já quebrava em outras praias, não chegasse aos nossos 400km de costa, transformaram o textículo que só pretendia um pouco de humor sutil, no ambiente carregado de dúvidas, incertezas  e medo.

Uma tênue crítica ao governo do estado por haver publicado um primeiro e tímido decreto de enfrentamento da pandemia há pouco reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, cujas medidas mais drásticas foram  a implantação do expediente corrido nas suas repartições e a suspensão das aulas das escolas que, há dias, já estavam sem elas, pela greve anual dos professores.

Acusado de implantar terrorismo e de imitador barato de Orson Welles, o  locutor que ainda continua vos falando, teve de ocupar, no mesmo dia, o mesmo espaço e dar  o mesmo destaque, a uma humilhante (para os obtusos novos leitores) retratação:

Como a lei bamerindus continuou vigendo, o tempo passou, o tempo voou e a  vidinha na província continua  numa boa.

Depois de duas inaugurações, o  Castelo Keulen recebe turistas e seus assaltantes.

A biblioteca teve festa, sem ter entrado em operação, dizem as ferinas,  por falta de livros.

O teatro voltou aos tempos de glória e interdições pelas  chuvaradas nas marés enchentes.

O novo normal não trouxe a revogação de todas as condenações, e prescrição das penas impostas aos blogueiros dissidentes, por decurso de prazo.

Jurisprudência é o que não falta nos tribunais superiores.

Felicidade sempre incompleta! (1892) – Luís García Sampedro- Museu Nacional do Prado, Madri

(Atualização de texto publicado em 17/03/2022)

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