GATO DE HOSPITAL
Não há ambiente mais democrático que um centro cirúrgico
As vestes, iguais para todos, do professor-doutor-catedrático à turma da faxina, ajudam no comportamento coletivo, também homogêneo.
Conversas descontraídas, na camaradagem, não impedem que algumas ultrapassem o limite da informalidade.
Relacionamentos mais sérios, com papel passado ou não, começaram naqueles ambientes, sempre de muita pressa, pressão e tensão.
A nova instrumentadora participava, pela primeira vez, de um procedimento com o cirurgião que já deixara a meia-idade pra trás.
Em qualquer tempo mais tranquilo da operação, depois do silêncio lancinante nos momentos cruciais, para relaxamento de todos, voltam as conversas sobre temas aleatórios.
Tímida, a estreante comenta, baixinho, que o doutor parece um gato.
Com a auto-estima lá pelas cumeeiras, o revelado felino solta a língua e passa, gastando sempre poucos decibéis, a contar dos cuidados que tem com a dieta e das atividades físicas que pratica.
Já pensando em outras oportunidades. Outros assuntos. Outras horas. Outros lugares.
A novata, percebendo as terceiras intenções, faz o experiente chefe da equipe cair das nuvens.
Quase tendo de gastar uma das suas sete vidas de Don Juan.
–O senhor fala ronronando, como um gato. Mal consigo entender o que está pedindo.
Se disser que não gostei é mentira, disser que gostei o programa reclama. Vou dizer que o cronista que se diz aprendiz envie diariamente para o meu prazer. Bom dia. O vinho melhor ainda não chegou. Obrigado por tudo