RACHID COM DELAÇÃO PREMIADA
Intercâmbio cultural é uma magnífica experiência.
Além de se conhecer mais um pouquinho do mundo, ganha-se uma visão abrangente do nosso próprio mundinho.
Nas faculdades de Medicina, de uns tempos para cá, também há programas semelhantes nas férias.
Os dois filhos médicos fizeram estágios em hospitais de Gratz e Helsinque.
Em contrapartida, hospedamos um jovem do Cairo.
Muçulmano.
Tentei convertê-lo a fazer, por um mês, tudo ou quase tudo como os jovens brasileiros da sua idade.
Cheguei mesmo a apelar para aquela estória que no Brasil Colônia os padres europeus desenvolveram teses que “não haveria pecado do lado de baixo do equador”.
Não deu certo.
Ia às festas mas não chegava muito perto das garotas.
Ficou fã do champanhe, mas só do guaraná.
Viu muita gente comendo presunto suíno, mas só experimentou o de peru.
Na sua despedida, um convite para um jantar a ser pago por ele.
Ao pedir uma bebida, um problemão para o hóspede.
O agora bem-sucedido cirurgião endocrinológico Ahmed Amr Mohsen revelou que antes de partir, recebeu orientação do seu imã sobre como deveria se comportar, mas não haviam previsto tal situação.
Não sabia se poderia se permitir permanecer na mesma mesa com uma pessoa consumindo álcool.
Educado, aceitou cometer este pecado que espero, tenha sido venial.
A solução foi uma conta rachada.
Só não poderia pagar pelo meu vício.
Tive que morrer com o pagamento da cervejinha.
(A crise diplomática relatada neste textículo foi publicada originalmente em 11/04/2019)