10 de maio de 2024
Memória

RACHID COM DELAÇÃO PREMIADA

Justiça (2014) – Alaa Awad – Parte do mural em North Adams, Massachussets, Estados Unidos


Intercâmbio cultural é uma magnífica experiência.

Além de se conhecer mais um pouquinho do mundo, ganha-se uma visão abrangente do nosso próprio mundinho.

Nas faculdades de Medicina, de uns tempos para cá, também há programas  semelhantes nas férias.

Os dois filhos médicos fizeram estágios em hospitais de Gratz e Helsinque.

Em contrapartida, hospedamos  um jovem do Cairo.

Muçulmano.

Tentei convertê-lo  a fazer, por um mês, tudo ou quase tudo como os jovens brasileiros da sua idade.

Cheguei mesmo a apelar para aquela estória que no Brasil Colônia os padres europeus desenvolveram teses que “não haveria pecado do lado de baixo do equador”.

Não deu certo.

Ia às festas mas não chegava muito perto das garotas.

Ficou fã do champanhe, mas só do guaraná.

Viu muita gente comendo presunto suíno, mas só experimentou o de peru.

Na sua despedida, um convite para um jantar a ser pago por ele.

Ao pedir uma bebida, um problemão para o hóspede.

O agora bem-sucedido cirurgião endocrinológico Ahmed Amr Mohsen revelou que antes de partir, recebeu orientação do seu imã sobre como deveria se comportar, mas não haviam previsto tal situação.

Não sabia se poderia se permitir  permanecer na mesma mesa com uma pessoa consumindo álcool.

Educado, aceitou cometer este pecado que espero, tenha sido venial.

A solução foi uma conta rachada.

Só não poderia pagar pelo meu vício.

Tive que morrer com o pagamento da cervejinha.

 

A Celebração – Alaar Awad, artista plástico egípcio de 43 anos, radicado em Luxor


(A crise diplomática relatada neste  textículo foi publicada originalmente em 11/04/2019)

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