A HISTÓRIA DOS VENCEDORES
A versão a ser contada é o maior troféu dos que vencem as guerras.
Não deverá ser diferente quando o sofrimento e o medo da mais avassaladora pandemia tiver passado.
O que se faz ou se deixa de fazer hoje, vai aparecer como verdade no futuro. Junto a muitas contas a ajustar.
Os lembretes ficam de lição. Tem muito o que ser feito agora mas não se deixe de sonhar que as novas gerações haverão de fazer julgamento diferente.
Alguns países já não contam seus mortos e retomam a vida com as mudanças que o receio da volta da doença exige.
Aceitam as perdas com a mesma resignação do Presidente Bolsonaro:
“Lamento todos os mortos. É o destino de cada um”.
Em sociedades onde os mais velhos são afastados das famílias para viverem os últimos dias e anos em casas de repouso, as altas taxas de mortalidade foram aceitas como parte do ciclo natural.
A roda da vida que seguirá girando sem parar.
Lugares com serviços de assistência médica adequados para o bom atendimento às doenças conhecidas, puderam se adaptar rapidamente à avalanche devastadora, sem evitar as perdas dos mais vulneráveis.
Quem dispõe de rede de proteção social, afasta o pior.
Daqui pra frente, serão grupos de risco ou de necessidades especiais?
Desta vez a Medicina não dispõe de armas adequadas e antes que sejam fabricadas, todas que tenham tido resultados em outras lutas, precisam ser empregadas.
A opção mais inteligente não pode ser, esperar ser atingido pelo inimigo, e só os feridos com mais gravidade terem direito de iniciar tratamento.
Do bom, do melhor e do mais caro. Mas insuficiente para atender a todos.
As mesmas facilidades para financiar construção de hotéis devem ser dadas para hospitais.
Que a megalomania para construir estádios de futebol faça também outros monumentos. Dos que recebem torcedores quando a bola estiver impedida de ser jogada.
As vagas que faltam hoje são as mesmas choradas pelos familiares das vítimas de acidentes de motos e da violência.
Ninguém se dava ao trabalho de contá-las.
Apenas somavam-se os que caíam nas guerrilhas das comunidades e periferias.
As pessoas que estão clamando pelo fim do racismo, permanecerão nas ruas, exigindo o fim das desigualdades sociais.
Os empregos perdidos, custam a voltar. Os pobres serão mais. Em número e intensidade.
A doença não tem ideologia nem complacência.
O que deixaremos para os que virão depois enfrentarem seus desafios, só as páginas justas da História saberão contar.
(Publicado em 04/06/2020)
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Há um ano, os gráficos da pandemia eram semelhantes aos de hoje.
Em curva descendente, depois de atingido o pico e torturante platô.
Com diferenças.
Ninguém acreditava que uma vacina para vírus estivesse pronta e no braço de quem encomendou primeiro, em seis meses.
As médias de contaminados e óbitos foram multiplicados por mais de dois.
E muitas perguntas.
Daqui a um ano, teremos outra onda?
As novas cepas e variantes estarão controladas e os vacinados, protegidos?
As autoridades sanitárias serão mais uma vez surpreendidas e novas improvisações na assistência, prometidas?
Uma coisa é certa: o tema da campanha eleitoral já está escolhido.
Serão dois os cordões do pastoril demagógico:
Os que deixaram de fazer Vs. Os como teriam feito.