A LÍNGUA DOS ESPORTES
Nem todo receptor sabe que na comunicação, o emissor deve escolher um canal e enviar a mensagem, usando um código que se faça entendido.
Qualquer leitor de jornal espera que no corpo da matéria, logo no início, o lide (lead para os anglófonos) resuma o que vem pela frente.
O quê, quem, quando, onde, como e porque?
Respondidas as perguntinhas básicas, a leitura segue ou a página é virada.
A vida do público ledor não tem sido tão simples nesses tempos multimídia.
Para quem passa olhos pelos cadernos de esportes, então.
Quantos enigmas.
Se não for consultado o velho pai, os burros vão dar n’agua e a mensagem, sob as bençãos de São Marshall McLuhan, será o meio.
Ainda surfando a onda ufano-flamenguista, a notícia do hat-trick de Pedro, seguida da advertência ao artilheiro: te cuida Gabigol, era puro mistério só revelado, anos depois, pela lista de Tite.
Bingo!
Essas notícias são de deixar torcedor temporão, copa do mundo, do tempo dos center-halfs, a ver transatlânticos.
Não é difícil perceber que o problema é a mistura de códigos.
Coisas do futebol globalizado, saídas da caixinha de surpresas.
Ainda bem que o Google está aí e não nos deixa pastar.
O chapéu e o truque de mágica precisam apenas ser contextualizados.
Nos circos, do fundo da cartola, para espanto das crianças de todas as idades, o mágico tira um, dois, três coelhos.
Deve ser por isso.
Quem faz o mesmo número de gols, tem direito a pedir música no Fantástico.
Olé!
Um senhor hat-trick!
Na manchete da página esportiva, a notícia da competição de UTV.
Com direito a foto de cena marinha.
Uma fila de buggies, à beira-mar, emoldurada por coqueiral.
Leitura cuidadosa até o final e a perguntinha básica ainda sem resposta.
Que diabo é dez?
Na Wikipedia que tudo sabe, o fim do mistério automobilístico.
E da sigla intraduzida.
Intermediários entre quadriciclos e jipes, os veículos utilitários multitarefas, Utility Task Vehicle para os íntimos, UTVs, sem outros usos e sem ter o que fazer de futuro, competem em longas viagens de até 500 quilômetros pelos caminhos salitrosos do litoral nordestino.
It’s all about sports, folks.
Have we all, a great World’s Cup.
(Partes deste texto foram publicadas em 30/11/2019)
