2 de maio de 2024
Coronavírus

MANDINGA DA SORTE

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Ao mesmo tempo em que a humanidade depende do trabalho de cientistas para mudar o destino de todos, outros querem mudar só o de alguns. Para pior.

A crença vem do período colonial. Chegou com os africanos escravizados e misturou-se com as pajelanças dos ameríndios, conservados os costumes aos dias de hoje.

Ninguém está livre de ser alvo das atenções de invejosos. Há tantos mistérios e tão poucas filosofias que mesmo quem não acredita, crê que um trabalho pode ser desfeito por outro.

Juremeiros, catimbozeiros e mandingueiros não entraram em quarentena. Os bumbos continuam no ritmo de sempre e os despachos sendo mandados,  expressos para quem impressionar possa.

Quatro meses de lockdown em ramo de negócios que mesmo se estivesse aberto, teria vendido quase nada.

Loja de presentes.

Para casamentos e festas, adiados por tempo indeterminado, ninguém vai organizar listas.

Mal as portas foram autorizadas a reabrirem, na primeira flexibilização, os amigos do alheio levantaram da hibernação.

Nas caladas da noite, alarmes eletrônicos adormecidos e sem testemunhas, um pé-de-cabra foi a senha de acesso à sala do tesouro.

Os invasores, extasiados com tanta beleza, talvez por não saberem das serventias, levaram pouco. De lembrança ou prova da missão cumprida.

Pelo desarrumado, o que procuravam, nestes tempos de cartões de crédito ilimitado, transferências bancárias e bitcoins, era dinheiro vivo.

Prejuízos contabilizados e blindex reposto, a retomada da vida comercial não demorou a sofrer um novo golpe.

Ataque psicológico.

Só foi a lua entrar em minguante para o recado a ser decifrado, ser entregue no endereço comercial.

Na soleira da porta, enfileirados como por arte de vitrinista, meia dúzias de peixes a caminho da putrefação, de bocas abertas à força de pedaços de gravetos.

Depois de pedidos de rezas fortes em grupos de oração, sugestões de incluir nas próximas compras um estoque de figas, patuás e olhos gregos, ouvir Jorge Ben e da Capadócia até furar o disco, uma explicação pode acalmar os espíritos mais inquietos. Ou belicosos.

Quem vai saber que procuravam e não encontraram, somente coisas de comer?

Ou utensílios e objetos mais fáceis de trocar por bagulhos de fumar e cheirar.

E se a instalação nada  tivesse a ver com o sobrenatural e fosse só arrependimento?

Um pedido de desculpas pelo acontecido, acompanhado do mimo, quais ramalhetes que mandam os bacanas.

E para quem pensa que são astúcias deste mundo mesmo, deve ser mais uma coisa dos chineses.

Para eles, os  peixes são a representação da coragem, da perseverança e da resistência.

E símbolo de boa sorte.

Uma mensagem dos que se retiram e espera-se,  pra nunca mais voltarem.

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