5 de maio de 2024
Política

A PROFECIA DO CÃO

A Carta do Inferno (1490) – Sandro Botticelli – Biblioteca do Vaticano

Sem ter vencido em nenhum estado nordestino na  eleição de 2018, o Presidente Bolsonaro esperava reverter o placar eleitoral na reeleição, com uma maquiagem no bolsa-família, adotando modelo mais generoso, e adornos tão cativantes, quanto o 13° pagamento.

No frenesi da pandemia, o auxílio emergencial era a certeza da conquista da simpatia dos que haviam perdido a ilusão de um up grade para a classe que se mostrava emergente: os pais dos novos consumidores de danoninho.

A demorada e causticante seca, campo sedento para recebimento das glórias, pela chegada das águas do velho chico, com ajuda de propaganda que daria a paternidade a uma obra de muitos pais, mães e gametas, e que ainda esperava o resultado do exame de DNA.

Quando parecia que a pandemia seria de onda primeira e única, e a vacina, eficaz e definitiva, em duas doses sem reforços, e que o adversário, recém transferido de Curitiba para a aparente prisão moral de São Bernardo, nunca mais botaria as mangas de fora, vieram os institutos de opinião e seus surpreendentes índices de intenção de votos.

Obras que vinham em ritmo de valsa, aceleradas em andamento prestíssimo, ganharam nova roupa domingueira e iguais promessas de sempre, como a do  Imperador Pedro II que não vendeu as joias da imperatriz e das amantes.

Todo esforço foi tentado.

Chegou perto das multidões.

Nos aeroportos, nas motociatas e nos palanques de inauguração.

A dinâmica da política mostrou  ao incorrigível  enfant terrible que a regra de ouro para continuar dando cartas no jogo é, antes de tudo, sobreviver.

As tormentas e vendavais haviam varrido do convés da errática nave, marinheiros de primeira viagem, caroneiros, e até lugares-tenentes que estavam a bordo para  orientar o capitão-mor em mares traiçoeiros, nunca d’antes navegados.

Foi quando os cavaleiros do centrão apareceram, como uma patrulha salvadora do General Custer, para impedir que o jogo fosse interrompido, subitamente,  já no primeiro tempo.

Sem mais renda a ser transferida, nem água pra rolar nos canais da transposição, nada foi capaz de mudar o mugido da boiada nordestina.

Ainda tem gente que não se conforma com um  disgramado desses, cabra bom de peia, que parecia não estar valendo mais do que o gato enterra, mais sujo que pau de galinheiro, sem um pão pra dar pr’um doido, cantando agouros de coã, caiu, pra nunca mais sair, no gosto do povo.

Lula só pode ter parte com o cão dos infernos.

A Calúnia de Apeles (1510) – Sandro Boticcelli – Galeria degli Uffizi, Florença


(Qualquer semelhança com um texto postado em 27/12/2020 não terá sido mera coincidência)

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