1 de maio de 2024
História

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS CONTINUA

A Revolução dos Bichos – Ralph Steadman


A História repetida em fábula.

A onda de invasões por movimentos articulados nos campos e cidades, faz lembrar que outros bichos já intentaram  a conquista dos  espaços que já têm dono.

Há três anos, os sinais ainda eram incipientes. Com tantas outras preocupações na pandemia, ninguém dava a devida importância para os outros animais.

Eles já percebiam que os humanos eram os únicos afetados e já começavam a sair das suas tocas para retomar os territórios que haviam perdido.

Os mais ousados percorriam áreas ocupadas há séculos, mostrando para as câmeras de TV,  quem andavam por ali antes de construírem cidades, ruas e monumentos.

Cientistas testaram os mais domesticados e concluíram que o coronavírus podia estar presente nos organismos, sem causar transtornos ou doenças.

Cães e gatos são a prova que o ataque desses minúsculos e invisíveis seres foi seletivo.

A guerra era pessoal. Contra os humanos.

Nenhum outro sofreu qualquer agressão, em nenhum lugar do mundo.

Até o bicho que esteve no centro dos acontecimentos quando todo o mal começou.

O velho hábito alimentar de ingestão de animais silvestres passou a ser tão execrável que a população de pangolins e outros pebas está livre da pimenta e das panelas.

Nos aceros e pés dos morros de dunas, a vegetação da mata nativa, resquícios da floresta tropical à beira do oceano, os bichos dão mostras que estão preparados para assumir outros papéis mais relevantes na natureza.

Frequentadores de um parque de preservação notavam que desde que os homens e as mulheres passaram a caminhar em número menor, sem os antigos grupos, em silêncio de resignação e recolhimento, outras famílias passaram a dominar o pedaço.

Os jacus, antes ariscos e retraídos, avessos a  toda aproximação, fugidios em voos rasantes de galinha se reuniam nas áreas proibidas aos piqueniques, com a certeza que não eram mais importunados pelo outro bando de criaturas barulhentas e bagunceiras.

Uma espécie em particular foi convocada para missão mais arrojada.

Um pelotão deles posicionou-se além das trincheiras, muros e cercas, para os embates no campo de batalha dos inimigos.

As iguanas, deixaram as matas e invadiram os jardins. E não pareciam satisfeitas com a destruição que provocavam nas flores, nem se bastavam de fazer das orquídeas, menu da dieta trivial do dia-a-dia.

Fizeram assaltos pelo interior das casas, em atitude de pura provocação, como se estivessem passando a mensagem que a invasão não iria parar. Outros chegavam, camuflados para a guerra.

A batalha final pareceu até ter tido início.

O que ocorreu em uma  antiga casa merece estudo retrospectivo de estrategista com experiência na expulsão de timbus que aplicam tática de guerrilha, em ataques  noturnos aos depósitos de lixo.

Quando  os marsupiais foram para outras paragens, os répteis avançaram e se estabeleceram.

Instalados no telhado, onde passavam o dia no bem-bom de intermináveis banhos de sol, a noite era reservada para outras movimentações.

Em  mensagens a serem decodificadas.

Tudo que eles transmitiam era muito cristalino.

Vejam quem agora está por cima.

E para que não restassem dúvidas, lá do alto mandavam seus petardos de odor insuportável como aviso que o território estava demarcado.

Só faltou  alguém provar que o coronavírus foi a arma mais letal, criada pela federação dos animais para,  finalmente, tirar a raça dominante do poder.

 Só se passaram dois anos depois para os sapiens retomarem  a política expansionista iniciada há mais de 300 mil anos.

Em Natal, desde que os astutos holandeses invadiram o Forte dos Reis Magos e o renomearam   Palácio da Colônia da Nova Amsterdã, nunca se viu um movimento tão bem articulado pela supremacia zoológica como o do MNTST+

Movimento dos que Não  Trabalham mas  querem Seu Teto.

A Revolução dos Bichos – Ralph Steadman, ilustrador e cartunista britânico de 87 anos de idade

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(O texto, publicado em 10/02/2021, foi atualizado)

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