A VELHINHA DE CHAPECÓ
Quando foi destampada a panela do mensalão e revelada a receita secreta da velha política, o país parecia lavado a jato, pronto para vestir novas roupas imaculadas.
Passados 16 anos, entre condenações sem provas e anulações de sentenças, sobra como maior perda a ser pranteada, o desaparecimento de uma simpática senhora, moradora de pacata cidade paulista.
Aos 90 anos, diante da TV, assistindo ao telejornal ainda campeão de audiência, solitária, enquanto tomava chá de boldo com rosquinhas de polvilho, passou desta para melhor, deixando um mistério a ser desvendado.
Luís Fernando Veríssimo, o autor intelectual do hediondo crime, não explicou os reais motivos do sincericídio.
Apesar das teorias conspiratórias e até hipóteses de assassinato de reputação, é fato, a Velhinha de Taubaté andava meio deprê.
Não conseguia mais ouvir tantas notícias de escândalos envolvendo pessoas em quem tanto confiava.
Suas fortes convicções vinham dos dourados anos de Getúlio, e permaneceram inabaláveis por todos os outros governos.
No seu panteão dos grandes vultos da pátria, o lugar de destaque nunca deixou de ser ocupado pelo último dos generais.
O de olfato refinado, ao do povo, preferia o cheiro dos equídeos e apesar da carranca por trás dos óculos escuros, nunca prendeu nem arrebentou ninguém.
Sua crença não resistiu à onda da maré vermelha.
Foi a derradeira a acreditar, a classe operária havia chegado ao poder, permanecendo surda aos cantos das sereias e tentações das riquezas dos opressores em seus invejados paraísos.
Seu espírito vagou errante, multiplicado aos milhões de crentes no Brasil acima de tudo, até baixar em Chapecó.
Encarnado em outra velhinha, crente em tudo receitado pelo mito. E no que ele fala, em rústicas lives e direto do cercadinho do rebanho.
Nunca deu trela às peraltices dos garotos numerados, às revoadas de cheques das contas do queiroz e verbas de centrão fazer festa.
Ajudar a vencer de uma só vez, o almofadinha da calça apertada e o ressuscitado, é a próxima missão patriótica.
Não será outra lorota vinda do oriente, a abalar sua fé.
Nunca foi de acreditar em pesquisas mas já percebeu. A boiada, mesmo vacinada, vem diminuindo.
Quando tudo parece, vai terminar em CPI, as esperanças da idosa renascem.
Se depender dela, o capitão nunca estrará sozinho no seu labirinto
–Não viram o mundão de motocicletas? Começou na praça da matriz e só foi terminar, pra lá de Xanxerê.
