4 de maio de 2024
Memória

ALMANAQUE DO AFETO

Quem haveria de imaginar um Vovô Fracolino no universo da imaginação dos meninos da geração 2020?

Sem entender as tramas nem se impressionar com os poderes dos beyblades, muito menos,  habilidade para liberar um único brawler, não custava tentar, uma desesperada volta ao passado.

Os dias, meses e horas de isolamento pandêmico devolveram netos muito mais habilidosos em mouses, controles remotos e toques nos smartphones.

Aquisições de conhecimentos, fora da grade curricular, merecem estudos antes que a conta das perdas, com a suspensão das aulas presenciais, seja fechada em  estatísticas quinquenais.

No acesso aos territórios antes proibidos ou restritos, os avanços saltam às vistas cansadas.

O convívio mais intenso, sem interrupções pelo turno escolar, resultou em relaxamento  da vigilância dos tutores, rendição e conquista das senhas escondidas.

Com o domínio delas, conseguiram ser  teletransportados em deslumbrantes viagens para muito além do jardim das maravilhas.

Sem mais necessidade de transgressões às regras dos jogos paternos, a arma secreta dos avós foi completamente anulada.

A permissão do telefone, nunca registrada na contabilidade das vesperais domingueiras, perdeu por completo a magia das pequenas contravenções entre cúmplices..

Abatido, como um super-herói à procura de uma dose de antikryptonita que o revigore e o traga de volta ao palco dos acontecimentos, uma solução ousada.

Com os mesmos  cachos, boina  e vestidinho vermelhos, Luluzinha está de volta.

Para alegria de quem pode explicar seu enredo, a estória criada em 1935, está disponível nos canais infantis.

As peripécias das crianças de uma pequena cidade precisam, para serem entendidas, de atualização e muitas explicações.

A vida num  lugar sem edifícios, nem elevadores, onde as crianças em vez de descerem para o play (ground) vão, sozinhas, brincar nos parques.

Ruas sem carros e o entra e sai, de uma para a outra casa, com gente grande que parece não precisar sair para trabalhar.

Repassar o que foi aprendido em anos de leitura dos gibis em quadrinhos e transferir tudo para a tela em alta definição, é tarefa prazerosa.

À medida que os personagens iam surgindo, a bio de cada um  hipnotizava quem devia achar que tais assuntos estavam fora do interesse daquele que nunca foi capaz de aprender  os nomes dos cachorrinhos da Patrulha Canina.

O espelho da fantasia  nunca  perde o brilho.

Quando voltarem  para os braços das suas professoras, nunca mais reclamarão dos rigores, incomparáveis com os da Dona Marocas.

O reencontro com os amiguinhos, Juca, Zeca, Alvinho, Carequinha, menos  o mauricinho Plínio Raposo, é sinal que  para a  turma, nada mudou.

E que menina não entra.

A patricinha Glória e o grude das Lulus com as Aninhas, estão de volta.

A festa continua.

Para o avô, restava  a esperança que o neto que estava um Bolinha de tanta comida e poucas atividades físicas, qualquer dia desses, haveria de chamá-lo para outras aventuras misteriosas.

E então, o aranha atacará novamente.

 

(Texto publicado em 4/10/20)

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