ANTIGAMENTE, AVÓS

Não se faziam avós com os de atualmente.
Na contramão dos saudosistas, temos de reconhecer que os de hoje são mais ativos e abertos ao diálogo.
A nova safra, toma mais vinho, envelhece lentamente e mantém o vigor por muito mais tempo.
Mais vida útil, saudável e convivência com os netos.
As mesmas figuras ancestrais, movidas a papas e canjas, hoje seguem dietas equilibradas, suplementadas com whey protein, macronutrientes, aminoácidos, ômega 3 e tudo que possa aumentar a massa muscular.
Só nos Estados Unidos a indústria de produtos antienvelhecimento para nutrição, condicionamento físico, tratamento de pele, substituição de hormônios, vitaminas e suplementos, gera uma receita de 50 bilhões a cada ano.
Trocaram o pijama e o chinelo (pantufa, pra aquecer os pés) por leggings, camisetas de poliamida anti-suor e tênis superlights.
Anos depois da aposentadoria, ainda frequentam a universidade.
Da terceira idade, já de olho nos cursos que poderão fazer na da quarta.
As conversas vespertinas com vizinhos, em cadeiras-de-balanço nas calçadas, só mudaram de lugar.
Com muito mais segurança e amigos, no burburinho dos shoppings.
Quem tinha como esporte mais radical, corridas de pés arrastados para fundo de rede, sem muito tempo para o ócio, divide o que resta, em sessões de hidroginástica, musculação, yoga, RPG, pilates.
Pés-de-valsa, vão para as aulas de tudo que é dança.
Das de salão onde sempre reinaram, até as de salsa, sertanejo, zumba e tudo mais que entrar na moda.
Reuniões, encontros, desencontros e desavenças à moda antiga, agora circulam nos grupos familiares em áudios, textos e lives.
As delícias das vovós continuam tão saborosas como sempre foram nas domingueiras barulhentas.
E mais variadas nos tantos restaurantes das praças (superlotadas) de alimentação.
Enquanto a imortalidade não é possível, trocam o geriatra pelo especialista anti-aging, esperando que um elixir à base de células-tronco seja tão eficaz como o milagroso comprimido azul.

(Publicação original em 24/09/2019)