ARTE AO GOSTO

        Mulher. Fase azul. Picasso

Na Florença Tropical Papa-jerimum, o número de  críticos já suplanta em muito o de artistas.

É o que se pode concluir depois que a nova obra de arte foi apresentada aos que passeiam pelas praias e redes sociais.

Perde talvez, para a quantidade de poetas.

Se aos que versejam forem somados os outros, inéditos e todos mais que levam a vida na flauta.

Às críticas, conceda-se os descontos possíveis, à expectativa criada com a aproximação da data em que a homenageada receberia honrarias, oferendas e a nova escultura.

A idealização da beleza nem  sempre é correspondida  na vida real. Nem na arte.

Por vezes,  a intenção vale mais que a percepção.

Alguns atribuíram o resultado da peça que é original,  a supostos reparos que teriam sido realizados na anterior. Recolhida por comprometimento da estrutura de sustentação , corroída pela ação das intempéries e ameaçada de desabar.

A substituída seria mais bonita.

Os que criticam são facilmente contestados pela fé, devoção e sabedoria popular.

Quem ama a feia, bonita lhe parece.

A divindade representada não tem um padrão estético definido.

É sempre fruto da imaginação, sob forte influência do local de veneração.

O essencial é a figura feminina. E o que ela representa.

Mãe. Multípara. Atarefada.

Cuidadora de muitos filhos, alguns trabalhosos e exigentes.

Sem ter relógio nem hora, ajuda a todos que a procuram, sob chuva e sol. Ao vento.

Mulher.

Santa guerreira.

Os críticos têm sido implacáveis. E descabidos.

Querem, diante da materialização da rica história de vida espiritual e tantos afazeres terrenos, que o artista a tivesse imaginado como uma dondoca de boutique.

Uma miss universo.

A peça retrata com fidelidade uma mulher ainda jovem.

Contemporânea.

Com um toque sensual, no vestido azul, colado ao corpo.

Um comportado decote revelando colo acolhedor, contrasta com seios quase murchos, de generosidade.

Na face, os traços miscigenados, lembram as raças negra e ameríndia. Seus crentes mais  fiés.

Os cabelos levemente ondulados fogem do padrão de beleza que costuma ser representado nas figuras das santas mais conhecidas. Todas européias.

Seu único adorno, é mais enfeite de diana de pastoril que coroa da nobreza opulenta.

Houve até  quem percebesse um ligeiro toque pop-art.

Por certa semelhança com Yoko Ono.

Novos tempos.

Novos santos. E santas.

Quando as canonizações deixaram de ser exclusivas de quem viveu nos monastérios do velho mundo, tipos diferentes começaram a  subir aos altares.

Na colonização espanhola, os artistas do eldorado acrescentaram às técnicas de pintura ensinadas pelos religiosos, cores, formas, proporções e a  sapiência dos Incas.

O barroco da Escola de Cuzco, resistiu à censura dos clérigos que não admitiam madonas amamentando. Muito menos em adiantado estado de gravidez.

Que a rainha do mar aceite a devoção humilde como símbolo de carinho e esperança.

E que a divina estrela brilhante seja sempre, guia, farol que orienta, e que nunca deixa um filho se perder, sem rumo.