AS DUAS BANDAS DA CIDADE
A polarização política vem de longe.
Ou de muito mais perto que os foz-iguaçuenses possam imaginar.
Da cidade das lembranças que os setentões não esquecem.
Desde sempre, e da primeira eleição para prefeito, moeda de duas faces.
Assim continua.
Pelas beiras e ribeiras do Curimataú, nunca o meio-termo teve vez.
Ali, qualquer simpatia era quase amor.
Ou ódio.
A política, a baliza.
Todos e tudo, com seus lados e suas cores.
A não ser, secreta e sem sinais exteriores, talvez, a diana do pastoril.
A rivalidade passava pelos times de futebol.
Um pra cada lado.
Empatados nos patrocínios pelos chefes políticos.
Rivalidade até nas barbearias.
Vizinhas, coladas uma na outra.
Uma democrata, outra republicana.
UDN X PSD.
No clube da elite, as aparências até que enganavam.
Único e de todos comerciantes.
Mas com mesas em volta do dancing mantendo a separação.
E a tradição.
Como nos boleros, dois prá lá, dois pra cá.
Suspeita-se que é terra sem unanimidades.
Um rodriguiano diria que ali, nem o pároco era burro. Nem indeciso.
Talvez tivesse restado sem partido, Paulo Tidão, o mecânico que consertava tanto Jipe quanto Rural.
Para ele, era tudo Willys.
E farinha do mesmo bisaco.
Suas estórias já foram bem contadas em crônicas e versos, por clérigos, leigos e pecadores.
Esperto.
Espirituoso.
Tirador de onda.
Sagaz.
Ninguém escapava de sua verve e argúcia.
Como o locador que sem nunca ter recebido pagamento pelo aluguel, pediu de volta a chave do imóvel.
Foi prontamente atendido.
Na reintegração da posse, a surpresa.
Móveis, cachorro, gato, bruguelos e utensílios.
Tudo nos seus lugares.
E a explicação desconcertante:
–Conforme combinado, devolvo a chave. Desocupar a casa, por enquanto, não posso.
(Estas memórias já foram evocadas em 15/06/2019)
O texto de hoje está ótimo para quem é lá de nós. O bucolismo raiz de vera. Bom dia com muita saúde para todos. Vou sair psra estirar as pernas. Inté.