3 de maio de 2024
CidadesMemória

AS DUAS BANDAS DA CIDADE

A polarização política vem de longe. Ou de muito mais perto que os foz-iguaçuenses possam imaginar. Da cidade das lembranças que os setentões não esquecem. Desde sempre, e da primeira eleição para prefeito, moeda de duas faces. Assim continua. Pelas beiras e ribeiras do Curimataú, nunca o meio-termo teve vez. Ali, qualquer simpatia era quase amor. Ou ódio. A política, a baliza. Todos e tudo, com seus lados e suas cores. A não ser, secreta e sem sinais exteriores, talvez, a diana do pastoril. A rivalidade passava pelos times de futebol. Um pra cada lado. Empatados nos patrocínios pelos chefes políticos. Rivalidade até nas barbearias. Vizinhas, coladas uma na outra. Uma democrata, outra republicana. UDN X PSD. No clube da elite, as aparências até que enganavam. Único e de todos comerciantes. Mas com mesas em volta do dancing mantendo a separação. E a tradição. Como nos boleros, dois prá lá, dois pra cá. Suspeita-se que é terra sem unanimidades. Um rodriguiano diria que ali, nem o pároco era burro. Nem indeciso. Talvez tivesse restado sem partido, Paulo Tidão. O mecânico consertava tanto Jipe quanto Rural. Para ele, era tudo Willys. E farinha do mesmo bisaco. Suas estórias já foram bem contadas em crônicas e versos, por clérigos, leigos e pecadores. Esperto. Espirituoso. Tirador de onda. Sagaz. Ninguém escapava de sua verve e argúcia. Como o locador que sem nunca ter recebido pagamento pelo aluguel, pediu de volta a chave do imóvel. Foi prontamente atendido. Na reintegração da posse, a surpresa. Móveis, cachorro, gato, bruguelos e utensílios. Tudo nos seus lugares. E a explicação desconcertante: - Conforme combinado, devolvo a chave. Desocupar a casa, por enquanto, não posso. (Estas memórias já foram evocadas em 15/06/2019) Pastoril - Pedro Souza - Pintor pernambucano nascido em no 1947
Pastoril – Pedro Souza 


A polarização política vem de longe.

Ou de muito mais perto que os foz-iguaçuenses possam imaginar.

Da cidade das lembranças que os setentões não esquecem.

Desde sempre, e da primeira eleição para  prefeito, moeda de duas faces.

Assim continua.

Pelas beiras e ribeiras do Curimataú, nunca o meio-termo teve vez.

Ali, qualquer simpatia era quase amor.

Ou ódio.

A política, a baliza.

Todos e tudo,  com seus lados e suas cores.

A não ser, secreta e sem sinais exteriores, talvez, a diana do pastoril.

A rivalidade passava pelos times de futebol.

Um pra cada lado.

Empatados nos patrocínios pelos chefes  políticos.

Rivalidade até nas barbearias.

Vizinhas, coladas uma na outra.

Uma democrata, outra republicana.

UDN X PSD.

No clube da elite, as aparências até que enganavam.

Único e de todos comerciantes.

Mas com mesas  em volta do dancing mantendo a separação.

E a tradição.

Como nos boleros, dois prá lá, dois pra cá.

Suspeita-se que é terra sem unanimidades.

Um rodriguiano diria que ali, nem o pároco era burro. Nem indeciso.

Talvez tivesse restado sem partido, Paulo Tidão, o mecânico que consertava tanto Jipe quanto Rural.

Para ele, era tudo Willys.

E farinha do mesmo bisaco.

Suas estórias já foram bem contadas em crônicas e versos, por clérigos, leigos e pecadores.

Esperto.

Espirituoso.

Tirador de onda.

Sagaz.

Ninguém escapava de sua verve e argúcia.

Como o locador que sem nunca ter recebido pagamento pelo aluguel, pediu de volta a chave do imóvel.   

Foi prontamente atendido.

Na reintegração da posse, a surpresa.

Móveis, cachorro, gato, bruguelos e utensílios.

Tudo nos seus lugares.

E a explicação desconcertante:

Conforme combinado, devolvo a chave.                  Desocupar a casa, por enquanto, não posso.

 

(Estas memórias já foram evocadas em 15/06/2019)

Casamento – Pedro Souza – Pintor pernambucano nascido em 1947

One thought on “AS DUAS BANDAS DA CIDADE

  • Geraldo Batista de Araújo

    O texto de hoje está ótimo para quem é lá de nós. O bucolismo raiz de vera. Bom dia com muita saúde para todos. Vou sair psra estirar as pernas. Inté.

    Resposta

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