27 de abril de 2024
Política

CAMPANHA SONSA

O Charlatão (1757) – Pietro Longhi – Museu de Arte do Século XVIII, Veneza


A sinceridade não chega a ser virtude capital, mas se em dose exagerada, transforma-se em defeito.

Deve  ser medida em régua curta, por questão de tempero e gosto.

Na bitola justa  é salvação; em excesso, pode ser fatal.

Há 15 anos, aos domingos à noite, o programa de maior audiência da TV, apresentava um filmete de no máximo cinco minutos, onde em situações as mais variadas, Salgado, um homem comum, assumia em cada episódio o papel de quem dizia a verdade. Somente a verdade. Duela a quien duela.

O personagem criado por Fernanda Young  e interpretado por Luiz Fernando Guimarães nunca  se saía bem. Nem mais ou menos.

O Super Sincero ainda durou cinco temporadas. Morreu de inverossimilhança.

Esquecem que a verdade é indivisível. Conveniências é que obrigam a ser encolhida ou  escondida.

Reduzida, quando ultrapassa  a metade da cota, passa a ser mentira.

Se aplicada reciprocidade ao aforismo, uma meia mentira também deveria ser  considerada uma verdade inteira.

No jogo político ainda há de se considerar intenções, interesses, circunstâncias e interpretações.

Em tempo de nominatas, pela  campanha eleitoral antecipada, deflagrada, aceita e legal, pois rotulada de pré,  é certo que o horário gratuito, este ano, arrombará a boca do balão dos índices de audiência.

Graças a um  recurso que não tem falhado na dramaturgia das telenovelas, sinônimo de sucesso, o papel duplo, representado por um mesmo ator ou atriz, estará  de novo na moda, sob os mais cívicos holofotes.

Na ficção, o artista representa na mesma estória, o bem e o mal.  O herói e o vilão. A mocinha pura e a interesseira.

A receita das gêmeas Ruth e Raquelem Mulheres de Areia, foi uma inesquecível herança que Ivani Ribeiro passou de Eva Wilma para Glória Pires,e a  tantos outros,  que usando a mesma fórmula mágica, alcançaram o estrelato instantâneo.

Agora, com o suco de jaboticaba das federações de partidos políticos, o recurso da dualidade tem tudo para prender a atenção do respeitável público,  ainda indeciso em quem votar.

Para cada aparição de um candidato, no bloco seguinte, no horário reservado ao adversário, ele estará de volta, quatro anos mais jovem, soltando cobras, lagartos e calangos contra os novos aliados.

Caberá ao telespectador ou radiouvinte decifrar a trama para descobrir quem merece crédito.                                        

O zangado de ontem, ou o cara-lisa dagora.

Nada que uma boa maquiagem não resolva, com blush de óleo de peroba.

Retrato de uma família veneziana (1765) – Pietro Longhi- Coleção dos herdeiros Salom, Segromigno in Monte, Itália.

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