28 de abril de 2024
Opinião

Campanha sem líderes pode até surpreender com postes

Roda Viva – Tribuna do Norte – 27/12/23

Estamos a 45 dias do início do Ano Novo Político com os seus prazos improrrogáveis. Ele começa depois da Quarta-feira de Cinzas.

A partir de então o calendário não para mais de correr. – É o calendário oficial sendo cumprido com as datas limite para cada fase da campanha desde a inscrição dos candidatos até a eleição. Além desses, existem os prazos não escritos, tão relevantes quanto os primeiros.

Esse Ano Novo poderá definir, já com algum atraso, o novo quadro partidário, com a definição de novos líderes ungidos pelas urnas. Líderes independem de mandatos, é certo, como tantos que influenciaram e definiram os destinos de agremiações inteiras sem ocupar qualquer cargo eletivo por décadas em nosso Estado. Mas não há dúvida de que um mandato pode ser o caminho mais fácil para consolidar uma liderança.

Uma constatação de hoje é que o Rio Grande do Norte continua sem líderes políticos, fora a ocupação dos quadros máximos do Executivo.  Quem ocupa a Governadoria ou a Prefeitura de um grande Município, obviamente lidera. Lidera com a força da caneta, escorando-se nos amplos poderes que sua função lhe confere. Mas não há garantias de continuidade dessa influência para além da conclusão do mantado. Para ser um líder atemporal, é necessário mais do que um mandato. É necessário inspirar, se fazer ouvir, influenciar parceiros, mesmo sem exercer os cargos de maior destaque do Estado.

Hoje, o que se vê, com alguma dificuldade ainda, é uma paleta de possíveis candidaturas que pretendem compor a linha de largada da corrida eleitoral. A chegada só Deus sabe.

POLÍTICA DIFICIL

Quarenta anos depois da Proclamação da República, o Rio Grande do Norte apresentava um quadro político semelhante ao da época do Império, com a família Albuquerque Maranhão ainda despontando no pedaço.

A Revolução de 1930 promoveu mudanças políticas, sociais e econômicas de fundamental importância no Brasil. Por aqui, forças políticas do Agreste e do Seridó se confrontavam para definir os novos rumos. As lideranças políticas do Seridó, que lutaram contra a oligarquia dos Maranhão, apoiaram Juvenal Lamartine, então governador quando estourou a Revolução de 30. O governador Juvenal Lamartine fechou organizações de trabalhadores e censurou a imprensa vinculada à oposição.

Era neste clima de instabilidade que se deu a campanha para sucessão estadual. O nome cotado pela oposição era o do desembargador Silvino Bezerra Neto, que rompera com Juvenal Lamartine, em 1929, durante a campanha presidencial. Foi quando explodiu a Revolução de 30.

Juvenal Lamartine foi deposto e começou uma disputa pelo seu cargo. A Aliança Liberal, a quem cabia indicar o governador em tempos de exceção, estava dividida entre os nomes de Café Filho e Silvino Bezerra Neto. Em caráter transitório, assumiu o governo uma Junta Militar instituída para garantir a ordem pública e consolidar a mudança de poder. Garantida a ordem pela Junta Militar, foi indicado Lindolfo Câmara para o governo provisório, substituído em seguida por Irineu Joffily, importado da Paraíba. Joffily desempenhou um relevante papel, implementando reformas e instaurando inquéritos para a apuração de atos políticos da Velha República. Como medida administrativa, tentou reduzir as despesas e o corpo de funcionários do Estado. Ainda fundou a Legião Revolucionária, com objetivo de garantir as instituições e restaurar os princípios republicanos.

PÓS-64

As grandes lideranças políticas do RN só apareceram depois de 1964. Todas elas agasalhadas pelo manto protetor da “Revolução Redentora”, que criou a excrecência da “sublegenda”, sistema que viabilizava inimigos (não apenas adversários) num mesmo partido.

Desde então a política do Rio Grande do Norte passou a gravitar entre Dinarte Mariz e Aluízio Alves, ungidos pelas urnas de 1960. Depois, Dinarte foi substituído por Tarcísio Maia, sucedidos por Wanderley Maris, Henrique Alves, José Agripino, Garibaldi Alves, Geraldo Melo que imaginou assumir o lugar de um dos dois.

O Ano Novo da Política se aproxima do início regido por lideranças formadas em razão de cargos públicos.

Na largada, o que se consegue identificar a olho nu é a Governadora do Estado, Fátima Bezerra, e o Prefeito de Natal, Álvaro Dias. Nenhum dos dois com expressão de autêntico líder, independentemente dos respectivos mandatos.

Mesmo assim, ambos estão sendo tentados até a praticar o tipo de iniciativa que era reservada, apenas, às grandes lideranças; – Tentar eleger “um poste”, expressão de origem desconhecida, invocada para dizer que determinado governante tem uma situação eleitoral tão confortável que conseguiria “eleger um poste”.

SEM DEFINIÇÃO

Instituto de pesquisa em intenção de voto mais experiente, o Conlsult fez algumas avaliações, colocando Carlos Eduardo Alves, três vezes Prefeito de Natal, como franco favorito, com um terço de intenção de voto, embora neste momento ainda poucos dizem ter candidato. Depois vem:- Natália Bonavides (PT) – 17%; – Styvenson Valentim (Podemos) – 12%; – Paulinho Freire (União) – 7,5%; – Bruno Giovanni (sem partido) – 3,88%; – Rafael Motta (PSB) – 3,88%; – Robério Paulino (Psol) – 0,63%; – Kleber Fernandes (PSDB) – 0,50%. A candidatura de Carlos Eduardo é certamente beneficiada pelo fato dele ter exercido a Prefeitura por mais de dez anos, tendo o nome próximo a Prefeitura.

Uma novidade de agora são as legendas partidárias; ou o fundo partidário que é de onde vem o dinheiro para pagar a festa

A expectativa é que no início ao Ano Novo Eleitoral, os candidatos viáveis, do ponto de vista financeiro e político estejam na pista prontos para a campanha. No calendário de 2024, é possível que a partida seja dada pelo menos por mais de seis candidatos.  Um bom começo animado pelas convenções que vão escolher os candidatos.

COM OU SEM POSTE?

No dicionário político-partidário “Poste” é o candidato de marketing difícil, desprovido do senso de iniciativa, totalmente dependente, manipulável e submisso, pesado e plantado como um poste. A expressão teve origem em comentário feito pelo político Adhemar de Barros a respeito da primeira eleição do, à época, azarão Jânio da Silva Quadros à Prefeitura de São Paulo, em 1951. Refere-se à facilidade que qualquer adversário teria para derrotar o candidato de uma situação arrasada por rachas e disputas internas.

Quem assumiu a condição de “poste” foi o atual Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quando disputou a Presidência da República, substituindo o então inelegível Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT). Haddad disse – em uma atividade de campanha – que “Lula deixou o plano de governo pronto”.

Eis a declaração de Haddad:

“Lula deixou o plano de governo pronto. Na impossibilidade de disputar, contra a vontade dele, nos escolheu, a mim e a Manuela para representá-lo nesse projeto”. Em outras palavras, a candidatura de Haddad era apresentada como uma forma de executar o plano de Lula de dentro da cadeia.

Como em campanha eleitoral acontece de tudo, será que ainda teremos um (ou dois) postes?

O jogo está começando a ser jogado. Vale a pena esperar e conferir. E já existem candidatos explícitos a postes.

Mas, as coisas geralmente não seguem o roteiro traçado.

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