1 de maio de 2024
Política

CATIMBÓ ELETRÔNICO

Três orixás (1966) – Djanira – Pinacoteca de São Paulo


Enquanto multidões são bombardeadas por mensagens de robôs programados  para o  jogo de interesses de grupos políticos, em países espiritualmente mais evoluídos, são usadas as mesmas ferramentas para alcançar ou reconquistar,  o amor fugidio, único e insubstituível.

Serviços espirituais que não são anunciados em postes de iluminação, nem entre pichações de muros.             

E nem mesmo pelos mestres do baralho cigano, dos jogos de búzios, das cartas do tarô,  horoscopistas, cartógrafos de mapas astrais e cartomantes mouras.

Essa gente  que sabe todos os segredos do passado, presente e futuro. Deste conturbado  e de outros mundos mais tranquilos.

A madame com nome, de preferência,  começado com Z, o pai e ao mesmo tempo, filho do mesmo santo, recebem o reforço  dos poderes de mestres orientais,  monossilábicos, Li, Ji ou Lu, despertam a curiosidade  e botam  fé em outros terreiros.

Os que acreditam nas promessas de trazer o amor ou o dinheiro de volta, baixam seus downloads nas redes de relacionamento.

Os mesmos e os maiores problemas continuam sendo solucionados com muita reza e  trabalhos espirituais.

Em outro plano. Usando outros meios, mídias, médiuns e cavalos.

On line e a milhares de quilômetros de distância, desde os sagrados templos eletrônicos da Índia e do Nepal.

O catimbó high tech atende pelo misterioso nome milenar de Vashikaran.

Palavra de origem sânscrita que pode ser traduzida como processo, ou método, de atrair, estimular, controlar ou seduzir alguém.

Panacéia para sofreres da alma, aplica-se  a tudo, incluídos os desastres econômicos que afugentam o amor verdadeiro e desinteressado.

Tem pra todo uso e circunstância.

Pro marido, pra mulher e pro amante.

Pro malandro e pro bofe.

Traz a saúde e o emprego de volta.

Aumenta os lucros nos negócios e o tamanho do bem ou mal querer.

Dá jeito em criança teimosa e juízo pra adolescente rebelde.

Apaga o facho de menina-casadoira.

Controla inimizades e a língua dos provocadores.

O bom-bril oriental é pra ser usado todo dia e por mil e uma noites.

O despacho,  à distância, muito simples e auto-executável, depende dos objetivos.

São repetições hipnotizantes de mantras,  certas posições do yoga, contemplações de desenhos de yantras e mandalas,  muita erva e aromas.

O controle da mente  é o segredo do sucesso da materialização dos desejos inconfessáveis.

Palavras e frases  vibram, ganham força e a energia atinge a pessoa querida,  mal amada, difícil de conquistar ou odiada.

Usado para fins destruidores, a vertente  com toques de  magia negra  é praticada por políticos para conquistar novos apoios e distância das malas sem alças que só dão lá, o que tomam cá. Quando não jogam sujeira no ventilador da Dona Geni.

Nos círculos concêntricos do poder,  já se admite o número de  adeptos semelhante aos de outras crenças, vindas  da Bahia e do Haiti.

Como os candidatos estão saindo da hibernação, é bom desconfiar  de político  que repete as mesmas promessas e desculpas de sempre.

Pode ser mantra.

Mandinga pra conquistar sua simpatia.

E voto na  eleição que é a carta da vez.

 

 

Orixás, tela de Djanira da Motta e Silva (1914/1979), retirada, pela ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, do Salão Nobre do Palácio do Planalto, ação apontada como sinal da intolerância religiosa, por ser evangélica.        Livre dos extremistas de 8 de janeiro, o quadro voltou ao  seu lugar, por decisão da nova primeira dama Janja, née Rosângela da Silva

 

(Texto publicado em 22/02/2021)

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