2 de maio de 2024
Coronavírus

CHEIRO E SABOR DE VITÓRIA

24F4270E-2C35-473D-9C55-473AB4D7C6A9Quantas vezes nos aconteceu e esquecemos dos lugares, personagens e perrengues.

Ameaçados pela ignorância. Salvos pelos  garçons.

Piloto em  primeiros vôos, na megalópole com fama de culinária cosmopolita, a fome de carne fez o pedido.

Steak tartar.

Cochichos, entreouvidos e a determinação do maître para que um dos seus comandados, o baixinho de cabeça chata, fizesse a abordagem ao freguês da mesa 27.

A do canto, por trás da coluna.

Na língua comum dos paraíbas.

Com bons modos para não melindrar o conterrâneo, a explicação  do prato exótico, pedido só pelos da colônia teuta, traduzida ao pé da letra,  e a pergunta em xeque-mate.

Em qual  ponto, desejava a carne crua.

E antes da dúvida, a sugestão de uma mais seca e assada. Mais parecida com a de sol.

Os sabores ultrapassam fronteiras e os viageiros seguem os cheiros.

A tentativa de quebrar a monotonia do hambúrguer, fritas e catchup levou a criança renovada nos parques da Disney a entrar no primeiro restaurante de luz vermelha, familiar, que encontrou.

Nos hieróglifos traduzidos do cardápio, nada que lembrasse o Changay do Alecrim.

E a explicação que constava do letreiro em neon.

Cozinha cantonesa.

A primeira sopa de barbatana de tubarão a gente nunca esquece.

Em Cusco, a lembrança gustativa da culinária agresteira, prejudicada pelo espanto e cara de enjoo de quem não gostou e não vai comer das balzaquianas nórdicas (ou seriam, yankees as galegas?) tête-à-tête com um cuy. Com uma cenoura na boca. À pururuca.

O curioso que enfrentou com galhardia um mote com huesillos não preservou o   apetite para o congrio, depois de dois ‘pastel’ de choclo, como entrada.

A imagem da champanheira intocada, por receio de pagamento de taxa extra, no café da manhã do três estrelas, na memória, virou natureza morta digna de exposição no Reina Sofia.

Todas essas lembranças  e a vontade de provar outros pratos, outras vezes, reforçam a luta.

5091F903-3BC4-4A58-91F1-F8BA328E0DF5O inonimado que amedronta tem seus pontos fracos.

Lembrem. O inimigo entra pela boca e pelas narinas.

Destrói logo paladar e olfato.

É por aí que devemos atacá-lo. Continuar. Insistir.

Sigamos a rota traçada pela boa mesa.

Às armas, pantagruélicos.

O tinhoso que deve morrer de inveja, não resistirá aos  nossos cheiros e sabores.

Bon appétit !

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