COMO MULTIPLICAR MULTIDÕES E INFLUENCIAR PESSOAS

Quando as discussões políticas transbordam das ideias e propostas, e deságuam na polêmica se as   fotografias das manifestações populares são ou não manipuladas, não tem como não lembrar da Atenas do Agreste, e seus personagens imortais.

Como esquecer quem, muito antes dos drones e técnicas fotográficas que multiplicam apoiadores e enchem ruas e praças de clones com gente, faixas e bandeiras que se repetem até nos altos das árvores,  tinha o dom de atrair para seus candidatos, o fiel eleitorado dos que nunca perderam o voto.

Um conterrâneo que se tivesse como muitos, embarcado num pau-de-arara e terminado em alguma  comunidade do Rio de Janeiro, teria  sido um diretor de evolução, um dos notáveis do morro, com vaga garantida na comissão de frente de uma escola de samba.

A vida não quis assim.

A vocação foi revelada antes, onde menos se poderia esperar.

Agropecuarista (pequeno), do ramo menos aquinhoado de tradicional família (grande) da aristocracia rural, morador de sítio quase dentro da cidade.

Sempre presente na  Urbi et Orbi.

Prosando. Assuntando. Politicando.

Nova Cruz, sua Roma e seu universo.

Segundo Moreira gostava mesmo era de campanha política.

Tinha lado, lugar e vez.

Tapioca, jamais.

Nunca mudou de lado, nem de cores, nem de líderes.

Não bastava participar, era de organizar a massa.

Virou especialista em mobilizações populares.

Tudo pela manutenção dos votos prometidos, conquista de indecisos e pânico nos adversários.

Passeata era com ele, voz ativa na escolha  dos itinerários.

Feeling aguçado para  as menores ladeiras e ruas mais estreitas.

Sabia como aumentar o cordão dos foliões-eleitores e preencher mais espaço com o menor número de pessoas.

Seus invejáveis índices de metro quadrado por correligionários, numa equação inversa, eram imbatíveis,

Se a passeata estava menos concorrida, quase parando antes do grande comício final, dava um jeito de animar, parecer maior e impressionar mais.

Tudo começava quando abria os braços, qual um redentor, e seguia aos pulos,  de uma esquina à outra, em rasantes de asas de avião paulistinha.                    

Às pernadas e cangapés, botava  a ala moça no seu lugar, os desanimados pra correr.

Pra frente quem vinha atrás, e devagar quem já ia longe.   

Seu grito de guerra jamais será esquecido:

–E S P A I A !