3 de maio de 2024
Opinião

Pouco tempo para muitas mudanças

 

 

Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 20/07/22

A campanha eleitoral entra na fase de convenções partidárias, quando não vai dar mais para adiar as decisões, contrariando a expectativa de alguns dos principais players que continuam depois disso,  tentando fazer mágicas, que seriam impensáveis nessa altura do campeonato.

A cobertura jornalística dessa campanha, portanto, vem sendo um trabalho de garimpeiro, no clássico sentido de quem procura metais e pedras preciosas em terra.

Na falta de um fato capaz de demonstrar, sozinho, um momento da corrida eleitoral vivido, o jeito é tentar e juntar fragmentos capazes de suprir o que não apareceu de forma completa.

Mais uma vez recorremos ao doutor Djalma, o norte-rio-grandense que tem um retrato seu na parede da Comissão de Constituição e Justiça da Camara Federal, e não por acaso, avô do candidato ao Senado, pela Oposição (estadual), e principal representante no bolsonarismo no RN, Rogério Marinho:

– Em política não existe coincidência.

 

MUITA COINCIDÊNCIA

 

Pela primeira vez na história, com dois norte-rio-grandenses no Ministério (Rogério Marinho do Desenvolvimento e Fábio Faria, Comunicações) e ambos querendo disputar o Senado, foi o presidente Bolsonaro quem definiu a questão:

– O candidato é Rogério.

O sistema bolsonarista já vivia o drama de não ter conseguido definir um candidato a Governador depois de algumas tentativas, quando o ex-deputado Fábio Dantas, topou a parada. Mas, na primeira visita do Presidente da República ao Estado, depois disso, Fábio viajou a João Pessoa, onde, na condição de engarrafador de aguardente de alta qualidade, havia conseguido uma reunião com os maiores distribuidores locais.

Fábio Dantas entre se firmar como candidato ao lado de Bolsonaro, e a cachaça de sua fabricação, ficou com a cachaça. E deixou uma frase lapidar: “Não sou bolsonarista, mas vou votar em Bolsonaro”.

E agora, Bolsonaro marcou uma programação política em Natal no último sábado, como já tinha feito em outras cidades nordestinas. – Alguém viu Fábio Dantas em algum momento da programação de Bolsonaro?

A quem perguntou, foi dito que ele apresentava sintomas de coronavírus…

 

PROJETO SOLO

 

Da nova geração, Fábio chegou à Assembleia Legislativa depois de ter sido chefe de gabinete do pai Deputado, conhecendo todos e os hábitos da casa e já atuando desinibidamente na bancada dos veteranos, como sendo um deles.

Depois de conversas infrutiféras com Fátima e o PT, o seu projeto pessoal só se viabilizaria no outro lado.

Chamou a atenção a estratégia de Rogerio Marinho, em formar uma base junto a um grande número de prefeitos, lubrificados por um projeto que contemplava cada um dele, e os seus municípios, sem problema de liberação de recursos.

Para Fábio e Rogério, hoje, será um dia decisivo É uma conversa com o União Brasil, de olho no tempo de televisão, que pode ser fundamental para uma campanha de oposição contra Fátima Bezerra.

Mas existe uma dificuldade, para isso acontecer, ele depende da concordância do Prefeito de Natal, Álvaro Dias, que se recusa a emprestar seu apoio a Fábio, ainda por conta de uma história mal resolvida, quando os dois eram Deputados.

Não fechando com Rogério e Fábio, à União Brasil resta a candidatura Rafael Mota (PSB) ao Senado, lhe dando o tempo de televisão suficiente  para bagunçar ainda mais uma situação que já está complicada para Carlos Eduardo.

 

FORÇA DE QUEM GOVERNA

 

Existe um dado pouco valorizado na história dessa eleição: é a posição da governadora Fátima Bezerra que desde sempre ocupou seu espaço como militante, deixando os acordos e entendimentos para outros companheiros.

Foi Fátima quem levou a Lula a necessidade de atrair Garibaldi Alves e Carlos Eduardo com quem mantinha uma posição estratificada em todas as pesquisas dos últimos três anos.

Por que não transformá-los de adversários em aliados?

– Lula captou a mensagem e topou na hora.

Fátima adotou uma cara de paisagem guardando sua força, como aconteceu em Brasília, até a hora de bater o martelo.

As esperadas reações da base, especialmente contra Carlos Eduardo, não tiveram continuidade e muitos dos que apareciam irredutíveis, foram se acomodando, a partir do senador Jean Paul Prates contando com o reconhecimento do trabalho que realizou no Senado, nos últimos três anos, depois de convocado para concluir o mandato de Fátima.

É verdade que esse é um assunto que deixa os petistas-raiz em situação desconfortável, sobretudo em relação a Carlos Eduardo pelo que ele falou (e existem filmes circulando)  do PT e de Lula, surfando nas ondas da Lava Jato.

 

O TEMPO PASSA

 

Por mais que a possibilidade de uma decisão por “WO” na eleição de Governador tenha saído de pauta, o que vai acontecer nesse resto de semana é que estabelecerá como serão os últimos dias de campanha.

Liderando as pesquisas, Fátima Bezerra não demonstra ter qualquer tipo de ansiedade. Seu ponto de vista é tanger a situação sem mudanças abruptas, como por exemplo permitir que o tempo de televisão do União Brasil vá engrossar o movimento de oposição ao seu Governo que chegou aqui sem ter tido de enfrentar problemas com a mídia.

A hipótese do União Brasil encampar a candidatura Rafael Mota para o Senado terá consequências muito menores, restritas praticamente a Carlos Eduardo, e facilmente administráveis sem comprometer o projeto petista.

Ai ficam faltando só 72 dias até a hora do voto, dia 2 de Outubro, com pouca possibilidade do aparecimento de nada que possa mudar o cardápio de uma eleição cozido em fogo brando.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *