3 de maio de 2024
Imprensa Nacional

Como Paulo Guedes não pode bater no Presidente, Marinho é o alvo preferencial

  O secretário de Previdência Social, Rogério Marinho, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, na cerimônia da assinatura de atos de revisão e modernização das normas regulamentadoras da saúde e segurança do trabalho, no Palácio do Planalto Por Josias de Souza Criticado pelo colega Rogério Marinho num encontro com operadores do mercado, Paulo Guedes bateu abaixo da linha da cintura:
“Furar teto para ganhar eleição é irresponsável com as futuras gerações.”
A frase contém um acerto e um erro. Guedes acerta ao condenar o populismo eleitoral. Erra no endereçamento da mensagem. Chama-se Jair Bolsonaro o destinatário correto da resposta. É ele quem força o teto para colocar em pé o programa Bolsa 2022.

Segundo a superstição bolsonarista, Guedes é um superministro.

Bolsonaro reiterou na sua live de quinta-feira:

“Ele é o cara da política econômica. A palavra final é dele.” Cuidou de esclarecer: “O Paulo Guedes continua com 99,9% aí de confiança comigo. Eu deixo 0,1% porque quando eu quero mudar uma coisinha eu digo: ‘PG, não é 100%, não, porra; 0,1% é meu. Qual é? Você quer 100%? Você está muito guloso.”

A boa notícia é que a taxa de empulhação presente no discurso do presidente da República não sofreu nenhum acréscimo. Continua nos mesmos 100%.

Assim como Sergio Moro dispunha de carta branca e a política do toma lá, dá cá com o centrão era coisa do passado, a “palavra final” na economia é do Posto Ipiranga. Sim, há a “porra” do 0,1% que permite a Bolsonaro “mudar uma coisinha.” Que diabos, ninguém é de ferro!

É nesse redutor que se encaixa o segredo de polichinelo que Rogério Marinho contou em reunião fechada com a turma do mercado. De acordo com o ministro do Desenvolvimento Regional, o programa Renda Cidadã, versão vitaminada do Bolsa Família, será lançado em janeiro da melhor ou da pior maneira. Ficou entendido que Bolsonaro, operando no modo reeleição desde o dia da posse, não exclui a hipótese de furar o teto de gastos.

Se houver uma segunda onda do coronavírus “nós vamos furar o teto de novo”, respondeu Guedes, evocando a emergência pandêmica deste ano de 2020. “Agora, sem doença, furar o teto pra fazer política… É outro governo, não é o nosso.”

O ministro da Economia ainda não percebeu, mas ele e Bolsonaro vivem há algum tempo em governos diferentes. Há três mundos em Brasília: o de Guedes, o de Bolsonaro e o mundo real.

No mundo de Guedes, “nós temos o compromisso de manter o teto” de gastos. No mundo de Bolsonaro, “quando eu quero mudar uma coisinha eu digo: ‘PG, não é 100%, não, porra; 0,1% é meu. Qual é?”. No mundo real, um Brasil submetido à mortandade do coronavírus e à recessão vê-se submetido a um terceiro flagelo: a falta de governo. Acusado por Rogério Marinho de ser o autor do ciclismo fiscal que previa financiar o Bolsa 2022 com um calote na dívida dos precatórios e uma mordida no Fundeb, Paulo Guedes chamou o colega de Esplanada de “despreparado”, “desleal” e “fura-teto”. Num telefonema a Bolsonaro, pediu providências. Exceto por uma nota anódina emitida pela pasta do Desenvolvimento Regional, nada sucedeu.

Se Marinho chegar à segunda-feira com a cabeça equilibrada sobre o pescoço, restará a Guedes uma de duas alternativas: ou pede para sair ou se muda da Granja do Torto, onde reside atualmente, para a casa descrita na célebre canção de Vinicius de Moraes.

Os versos relatam que “Era uma casa / Muito engraçada / Não tinha teto / Não tinha nada / Ninguém podia / Entrar nela, não / Porque na casa / Não tinha chão.”

A Casa descrita pelo poeta fica “na Rua dos Bobos, número zero.”

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