DELIVERY ANCESTRAL
Por mais paradoxal, os tempos que haveriam de ser já ficaram para trás.
O passado é o futuro que vem chegando, nas estórias que as lembranças preservam, em antevisão dos dias do amanhã.
Henry Ford ainda andava de charrete, com um cavalo de força-motriz, e uma cidade do agreste potiguar já contava com eficiente serviço de entrega de encomendas.
Precursor do FedEx e do DHL, seu portfólio oferecia não só o transporte mas também a compra e guarda dos produtos.
Aceitava grandes volumes e cargas vivas.
Trabalhava exclusivamente na modalidade pré-pagamento: encomendou, chegou.
Às vezes com demora.
Muito além da tabela própria, modelo Amazon.com, fazia tomada de preços e era abastecido por variados fornecedores.
Empresa nos trinques.
Auto-sustentável.
Ecologicamente correta.
Socialmente justa.
Economicamente viável.
Gestão familiar.
Quadro de colaboradores enxuto.
Toda a energia empregada, de geração própria.
Nunca usou combustíveis fósseis.
Conseguia alcançar emissão zero de gás carbônico.
Fortemente comprometida com a redução de efluentes do metano e no aproveitamento dos resíduos sólidos orgânicos pela indústria de fertilizantes.
Sua área de abrangência ia da Parahyba do Norte a Natal, com hub estrategicamente localizado em ponto equidistante das duas capitais.
Percorrendo trilhas e veredas não cobertas pelo seus principais concorrentes – os ingleses da Great Western of Brazil Railways Company Limited – dominou o mercado por algumas décadas.
Com a chegada dos cavalos de aço e seus cascos de borracha, os negócios dos tropeiros sofreram o maior e fatal abalo.
A guerra pelo mercado com as sopas trazidas de Guarabira pelo tycoon Vicente Flôr (com circunflexo) dizimou suas últimas tropas, e o empreendimento acabou cerrando as porteiras.
Sua atuação foi tão marcante que ainda hoje, mesmo quem nunca utilizou seus préstimos, não a esquece.
Por isso é fácil identificar um novacruzense raiz, da gema e das antigas.
Pela pronta reação a qualquer demora ou falha na entrega de qualquer coisa:
– Vem pelos burros de Mané Lalau?
(Parte deste texto foi publicada em Toda Carga, em 22/07/2019)