Depois do orçamento aprovado, teto ameaçado, restam as porteiras (nada) fechadas
Por Adriana Fernandes no Estadão
Se o teto não morreu, a votação do Orçamento de 2021 mostrou que a estratégia (bem-sucedida) é desviar dele.
Melhor imagem não há do que a fotografia postada pela conta debochada “Faria Lima Elevator”, no Twitter, sobre o teto de gastos no Brasil: uma porteira fechada com a placa “por favor, portão fechado” e, nas laterais, ausência de cercas e espaço aberto para passagem.
Melhor seria se tivessem feito isso com propósitos mais nobres voltados para a pandemia, como ampliar a transferência de renda aos mais pobres. Melhor política para hoje.
Parece que a aposta é apertar demais as despesas discricionárias (como são chamados os gastos de investimento e custeio da máquina que o governo tem liberdade para passar a tesoura) e depois contar na pressão para aprovar crédito extraordinário.
Foi na cara de pau que o Congresso cortou despesas obrigatórias da Previdência, seguro-desemprego e subsídio para agricultura familiar. O Congresso é o dono do Orçamento. Se ele fizer bagunça, ficará muito difícil ele tentar consertar.
MAUS LENÇOIS?
Arthur Lira se irritou com negociações paralelas além do acordo. Mas ele e Rodrigo Pacheco tocaram o barco desgovernado. E os dados da equipe econômica, enviados ao Congresso, foram ignorados..
Paulo Guedes foi se queixar ao presidente Bolsonaro e dizer que o Orçamento é inexequível, mas não há perspectiva de veto. A solução do impasse terá de passar pelo Congresso. Mais um problema enquanto a pandemia fica à base de reuniões de comitês que nada resolvem.
O ministro Rogério Marinho e os articuladores políticos, que trabalharam pelas emendas, acabaram colocando o governo em maus lençóis, dado que, para viabilizar o que eles querem, tiveram de colocar várias variantes de pedaladas contábeis.
Difícil mesmo será tirarem o doce da boca das crianças. No caso, os senhores senadores e deputados.