28 de abril de 2024
Opinião

DEZ ANOS DE PRÓ SERTÃO: É DIFICIL GERAR EMPREGO

Roda Viva – Tribuna do Norte – 28/06/23

No ano de 2013, o Rio Grande do Norte vivia um momento de exaustão em matéria de geração de empregos na indústria. Aí apareceu uma novidade: – a velha e vitoriosa experiência realizada em Santa Catarina, onde se conseguiu somar a força da indústria tradicional da capital, e a abundância de mão de obra desocupada no interior.

Por que não juntar essas duas forças, para o aumento de produção de um mesmo produto, no caso da avicultura? – O grande frigorífico passou a suprir os parceiros com pintos de dez dias para serem tratados até a hora do abate, realizado pela empresa integradora, que havia financiado todo o desenvolvimento da ave, e assumia a última etapa de marketing e comercialização.

A Sadia tornou-se um “case” mundial de sucesso, onde todos ganham.

No Pro Sertão, uma empresa catarinense, a Hering, já atuava no RN como fabricante de confecções, e animou-se em virar integradora, reunindo pequenas oficinas para o projeto. A Hering fornecia a matéria prima (já modelada) e o parceiro cuidava do acabamento, voltando a roupa pronta para ser comercializada. O sistema começou a funcionar “muito bem”, na palavra de um executivo do Governo do Estado.

GOVERNO ATRAPALHA

Mesmo se tratando de um programa do Governo do Estado, a Justiça do Trabalho (federal) não concordou com o modelo de parceria. O Ministério Público do Trabalho caiu em campo, colocando a empresa integradora como responsável pelos direitos trabalhistas dos empregados dos faccionistas e distribuiu tantas multas que as primeiras integradoras desistiram.

Luta grande. Foi um desafio enorme para o empresário de quem, normalmente, só se exige eficiência no negócio. A Guararapes montou um time de advogados de alto nível e foi discutir o assunto nos tribunais, defendendo uma tese que terminou vitoriosa em várias instâncias, provando que os empregados dos seus parceiros não são seus empregados.

O Ministério Público do Trabalho autuou o Grupo Guararapes em R$ 37 milhões, e tentou obrigar a empresa a registrar como seus os empregados dos prestadores de serviço. E isso tudo, mesmo após a Reforma Trabalhista, que já havia virado lei.

Até os trabalhadores se organizaram contra a atuação do Ministério Público do Trabalho, que em tese, estaria agindo para proteger o interesse deles, seus “direitos” trabalhistas.

Resumo desta batalha: – A posição da Guararapes teve reconhecido, pela Justiça, um contexto econômico e jurídico.

NÚMEROS DO PRÓ SERTÃO

Com todas essas dificuldades, assim mesmo, um quarto da produção de Guararapes, tem origem nas oficinas do Pró Sertão. No ano de 2022, os recursos financeiros movimentados entre esses parceiros movimentaram algo em torno de R$ 90 milhões,

Pelo projeto original, em 2017, se esperava 300 oficinas independentes em atividade. No entanto, em uma década, a evolução real comprova que o número de facções têxteis saltou de 12, em quatro municípios, para 124, em 35 cidades potiguares em 2023.

Juntas, elas empregam quase cem vezes mais que no início. Somam cerca de 4.000 empregados ante os 40 de 2013, e, em maio deste ano de 2023, superaram a marca de 1 milhão de peças confeccionadas por mês.

LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA

O Pró Sertão sobreviveu sob a liderança industrial do grupo Guararapes, mas, atualmente, explica Rodrigo Mello, Diretor do Senai, parceiro do programa, existe uma gama de empresas, inclusive de outros estados, como Pernambuco e Paraíba, que vêm buscar no RN essa solução de parceria,  pela qualidade da mão de obra, que evoluiu, nos últimos dez anos, a partir da rede de capacitação  aqui estruturada.

“É importante que a gente enxergue o crescimento permanente do Pró-Sertão, inclusive contratando pessoas, diz Sylvio Torquato que participa do programa desde o começo, mostrando sua viabilidade. “Em 2022, fechamos o ano com uma produção superior a 6,3 milhões de peças e mais de R$ 90 milhões circularam por estas oficinas”.

Será que a capacidade de crescimento do programa Pró Sertão se exauriu?

Sujeito as leis de mercado, não se pode esquecer uma máxima desta atividade: – o segredo é a alma do negócio.

PRESENÇA CHINESA

Mais que o interesse e os incentivos dos governos, um programa como o Pró Sertão depende, fundamentalmente, das muitas empresas envolvidas no sistema.

Agora mesmo, com todas as cautelas, surgem informações de um grande grupo internacional, que está consultando o Pró Sertão, para saber da viabilidade da entrada de novas empresas.

A megaempresa chinesa SHEIN, que no ano passado faturou US$ 2 bilhões no Brasil, no mercado de vendas pela Internet, hoje em processo de associação com o grupo brasileiro Coteminas, quer conversar com o Pró Sertão para produzir moda no Brasil. Seus números são muito grandes. Para começar, dois mil parceiros/fornecedores.

Não deve ser a única. Com as novas possibilidades de investimento no RN em outros setores, o Pró Sertão tá dentro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *