O FANTÁSTICO DOUTOR FAKE
Muito antes da dramaturgia telenovelesca e da epidemia de médicos fronteiriços, formados em portunhol, em escolas de fim-de-semana, um dos mais conhecidos especialistas do Rio de Janeiro, depois de mais de 25 anos de prática médica, revelou-se um tremendo farsante.
De invejável estilo de vida.
Cobertura na Lagoa.
Mercedes último tipo.
Prestígio.
Diretor de hospital filantrópico.
Status.
Clientela ampla e seleta.
Organizador dos mais concorridos seminários, sempre com estrelas internacionais.
Só não foi fenômeno no Instagram porque este não havia.
Ainda arranjava tempo, disposição e documentos fajutos para ser dos quadros efetivos dos mais almejados empregos de jaleco branco: Banco do Brasil e INAMPS
Sucesso era o nome dele.
A bonança acabou quando chegou a tempestade da era da informática.
Na digitalização dos arquivos do Conselho de Medicina, o início do inferno astral.
O ilustre cidadão abaixo de qualquer insuspeita, usava a inscrição e passava por facultativo falecido.
Sobrinho de renomado cirurgião, sempre nas férias, vinha do interior paulista, aprender mais na cidade maravilhosa.
Depois, com ‘permissão’ da escola médica que havia abandonado no segundo ano, longas foram as temporadas como estagiário.
O tio ensinou ao pupilo os segredos do nobre ofício e a arte de curar.
Como em tempos bíblicos.
As portas abertas e o acesso privilegiado às pessoas certas, foram bem aproveitados.
O resto veio com talento, trabalho, determinação e sorte.
E o maldito computador.
Na revista Veja, a penúltima informação.
Teria fugido para o Paraguai.
Depois de concluir (de verdade) o curso nas terras do Chaco, diploma revalidado e atualização na Europa, retomou seu desígnio.
Como num folhetim,
… 30 anos depois …
a última notícia.
E o desfecho.
(plano americano)
Ainda sem cogitar aposentadoria, exerce o mister de urologista, com o desvelo de sempre.
Em aprazível e bucólica cidade do litoral fluminense.
THE END
(Publicação original em 22/06/2019)