DIA DE CURA
Não basta ser avô, tem que ser cúmplice.
Permitir pequenas transgressões das normas domésticas, na casa onde quase tudo é possível
No território de legislação mais permissiva, a liberdade tem asas de maior envergadura.
Não se tem notícia se já foi comprovado cientificamente, mas o convívio com os netos deve ser o elixir mais eficaz para uma vida longa e feliz.
Quem tiver tempo e ainda não aderiu ao tratamento, procure iniciar, o mais precoce possível.
Avoridade devia ser palavra dicionarizada e ser alcançada com uma pílula dourada a ser tomada aos primeiros sinais que a meia-idade vai ficando para trás.
Filhos dos filhos são o antídoto para a senectude de curto horizonte que teima em ter pressa.
A velhice não é um estado de espírito. Sem data de nascimento certa, é destino.
Chega sorrateiramente, com a ilusão de uma sobrevida de privilégios e tranquilidade.
Vencida a reação primeira ao direito de furar filas, os demais benefícios vão sendo aceitos.
O perigo é quando se passa a exigir regalias que a boa forma física e os cabelos grisalhos camuflados em 50 tons a caju, não justificam.
Logo, surgem outras. Mais sedutoras e esperadas com ansiedade.
Descontos nos cinema e teatros, gratuidade no transporte público, sempre requeridos com um misto de satisfação no bolso e melancólica sensação de não durar muito.
O que seria da provecta idade sem a prazerosa companhia que contamina como uma proteína spike incorporada ao DNA, para mudar vidas
Enquanto não se comprova a polêmica hipótese que estamos em meio a processo evolutivo de seleção natural, a esperança dos ainda não escolhidos para o altar dos sacrifícios, é saber que nenhum algoritmo é capaz de prever com precisão, os prazos de validade.
A frustração, por súbita doença infantil, do fim de semana que prometia dedicação exclusiva, na folga dos pais, é a prova que os avós ainda são indispensáveis.
Em tempos de pandemia, qualquer resfriado ou febrícula, termina em swab nasofaríngeo e expectativa do resultado do exame, em intermináveis horas de aflita espera familiar.
A recaída do isolamento, violado por mensagens de voz e chamadas de vídeo, revelam a necessidade do peito mais que amigo e a certeza da plena compreensão, sem censuras nem punições.
Aos seis anos, o pirralho já sabe emitir o boletim da evolução da virose e determinar o prognóstico de total restabelecimento.
Vovô, estou bem melhor. Mas só quero ficar bom mesmo, pra voltar pra escola, na quarta-feira,.
A terça é o pior dia de todos. Tem Inglês e Música. E a professora passa mais tarefas pra casa.
Se ninguém ainda não disse, digo eu.
–Netos fazem bem à velhice.
Belo “Texto”, me senti representado. Parabéns!
Quem diria?
Nós íamos ser felizes e não sabíamos.
Excelente live. Os melhores momentos foram quando meus netos (a) moraram comigo