30 de abril de 2024
CoronavírusFamilia

DIA DE CURA

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A Criança Doente (1663) – Gabriël Metsu – Rijksmuseum, Amsterdã


Não basta ser avô, tem que ser cúmplice.

Permitir pequenas transgressões das normas domésticas, na casa onde quase tudo é possível

No território de legislação mais permissiva, a liberdade tem asas de maior envergadura.

Não se tem notícia se já foi comprovado cientificamente, mas o convívio com os netos deve ser o elixir mais eficaz para uma vida longa e feliz.

Quem tiver tempo e ainda não aderiu ao tratamento, procure iniciar, o mais precoce possível.

Avoridade devia ser palavra dicionarizada e ser alcançada com uma pílula dourada a ser tomada aos primeiros sinais que a meia-idade vai ficando para trás.

Filhos dos filhos são o antídoto para a senectude de curto horizonte que teima em ter pressa.

A velhice não é um estado de espírito. Sem data de nascimento certa, é destino.

Chega sorrateiramente, com a ilusão de uma sobrevida de privilégios e tranquilidade.

Vencida a reação primeira ao direito de furar filas, os demais benefícios vão sendo aceitos.

O perigo é quando se passa a exigir regalias que a boa forma física e os cabelos grisalhos camuflados em 50 tons a caju, não justificam.

Logo, surgem outras. Mais sedutoras e esperadas com ansiedade.

Descontos nos cinema e teatros, gratuidade no transporte público, sempre requeridos com um misto de satisfação no bolso e melancólica sensação de não durar muito.

O que seria da provecta idade sem a prazerosa companhia que contamina como uma proteína spike incorporada ao DNA, para mudar  vidas

Enquanto não se comprova  a polêmica hipótese que estamos em meio a processo evolutivo de seleção natural, a esperança dos ainda não escolhidos para o altar dos sacrifícios, é saber que nenhum algoritmo é capaz de prever com precisão, os prazos de validade.

A frustração, por súbita doença infantil, do fim de semana que prometia dedicação exclusiva, na folga dos pais, é a prova que os avós ainda são indispensáveis.

Em tempos de pandemia, qualquer resfriado ou febrícula, termina em swab nasofaríngeo e expectativa do resultado do exame,  em intermináveis horas de aflita espera familiar.

A recaída do isolamento, violado por mensagens de voz e chamadas de vídeo, revelam a necessidade do peito mais que amigo e a certeza da plena compreensão, sem censuras nem punições.

Aos seis anos, o pirralho já sabe emitir o boletim da evolução da virose e determinar o prognóstico de total restabelecimento.

Vovô, estou bem melhor. Mas só quero ficar bom mesmo, pra voltar pra escola, na quarta-feira,.

A terça é o pior dia de todos. Tem Inglês e Música. E  a professora passa mais tarefas pra casa.

Se ninguém ainda não disse, digo eu.

Netos fazem bem à velhice.

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A Menina Doente (1886) – Edvard Munch – Galeria Nacional da Noruega

 

3 thoughts on “DIA DE CURA

  • Luiz Marcelo Barbalho Leite

    Belo “Texto”, me senti representado. Parabéns!

    Resposta
  • Domicio Arruda

    Quem diria?
    Nós íamos ser felizes e não sabíamos.

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  • Janete

    Excelente live. Os melhores momentos foram quando meus netos (a) moraram comigo

    Resposta

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