28 de abril de 2024
Memória

DIAGNÓSTICO PERVERSO

O último auto-retrato de um moribundo (1823) – Théodore Géricault – Museu do Louvre, Paris


Faz toda a diferença a pronta e correta detecção, no início,  de qualquer problema de saúde.

Em alguns casos, é o segredo do êxito do tratamento.

Todos os esforços para iniciar a terapêutica tão logo apareçam os sintomas ou sinais, é a razão de tantos meses coloridos, depois que o outubro rosa e o novembro azul se espalharam pelo mundo afora.

Pesquisadores estão sempre em busca de marcadores, substâncias detectáveis, específicas de cada doença.

Muitos já receberam o Nobel de Medicina pelas descobertas que depois, desenvolvidas pela indústria transformam-se em prática clínica rotineira.

O mesmo não se pode dizer da conclusão que uma equipe de senhoras caminhantes matinais, sem maiores rigores semiológicos,  em conclusão de  caso com prognóstico sombrio, apesar de apenas superficialmente analisado.

Por ouvi dizer, selaram o veredicto e a sorte do coitado peregrino.

Uma das facultativas, retornou à atividade física depois de um longo período em outras canchas, e quis logo se inteirar das novidades, da vida alheia e dos transeuntes.

Depois de ter se atualizado com a ficha  cadastral dos novos frequentadores,  com ênfase nas informações sobre a genealogia e atividade profissional,  perguntou se era mesmo quem pensava aquele sessenta e setão de passadas largas.                          

Confessou que teve dúvida no reconhecimento, daí o pedido de confirmação.

A palavra passa à outra painelista com jeito de  preceptora ou chefe de clínica, que bastante segura dos dados apresentados,  desenvolve seu raciocínio clínico:

“Viu como emagreceu? Está um caco.                    Anda caladão. Os cabelos parecem capucho de algodão.                                                                        Nem a barba tira mais.                                                  Já fechou até o consultório.                                          Só pode ser aquela doença.                                        Não dou três meses e ele nem consegue mais andar por aqui.”

É de se pedir  uma sessão de revisão de caso clínico ou um vivas corpus ao ministro Gilmar.

                                            ***

N. do A.

Este diagnóstico, registrado precocemente  em 06/09/2019,  foi confirmado há quatro meses.

Submetido a tratamento cirúrgico – Prostatectomia Radical Robótica – o paciente evolui bem, e mostra até  uma aparência física melhorada

 

Théodore Géricault em seu leito de morte (1824) – Charles Émile Champmartin – Instituto de Arte de Chicago

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