2 de maio de 2024
Segurança

Dona de bar é exemplo de solidariedade ao abrigar moradores de Natal durante ataques

A matéria é de Mariana Ceci para o Globo desta quinta-feira, 16 e mostra que há, sim, espaço para solidariedade quando o momento parece de “salve-se quem puder”.

Ao ver a notícia de que a frota de ônibus da capital potiguar seria recolhida após diversos ataques incendiários aos veículos na terça-feira, Ariane Cavalcanti não pensou duas vezes: proprietária do Belchbar, localizado na Zona Sul de Natal, abriu o Instagram do estabelecimento e postou um texto no qual comunicava a abertura das portas do bar para acolher todos que estivessem nas ruas ser ter como voltar para casa.

O ato de solidariedade ganhou projeção na internet, com mais de 3 mil visualizações no story postado por Ariane e centenas de compartilhamentos. A produtora cultural passou a noite acordada de prontidão, pronta para ouvir caso alguém chegasse ao estabelecimento em busca de abrigo.

Às 3 horas da manhã, ouviu palmas no portão: duas mulheres chegaram, após uma caminhada de mais de uma hora, vindas de outro bairro da cidade. “Eram duas mulheres que trabalhavam em locais diferentes, mas próximos, e estavam há horas esperando algum tipo de transporte para levá-las para casa, sem sucesso, debaixo da chuva. Uma delas viu o compartilhamento de alguém, e então elas decidiram vir até aqui”, conta Ariane.

No bar, as mulheres puderam tomar banho, trocar de roupa e se instalar para descansar até o dia seguinte, quando os ônibus voltaram a circular na capital potiguar no início da manhã.

“Em uma situação como essa, de medo, de insegurança, é fundamental a gente distribuir solidariedade e pensar como podemos ajudar. Eu fiquei surpresa com a quantidade de elogios que recebemos nas redes sociais, porque para mim isso deveria ser algo natural, cotidiano. Os espaços precisam ser multifunção, eu acredito muito nisso”, relata Cavalcanti.

A situação vivenciada pelas duas mulheres que passaram horas à espera do transporte público se repetiu por todas as zonas de Natal na quarta-feira (15), quando mais uma vez os ônibus foram retirados de circulação após o registro de novos ataques contra veículos. Na avenida Salgado Filho, uma das principais de Natal, a reportagem do Jornal O GLOBO acompanhou a espera de mais de uma hora da população, sem qualquer sinal de transporte circulando nas ruas.

Funcionária do Restaurante Popular, Alaíde Pegado, de 59 anos, conta que mesmo diante da incerteza sobre como voltaria para casa, não podia faltar o serviço. Para voltar para casa, caminhou os 8 quilômetros que separam sua residência do Centro Administrativo do Estado, onde trabalha. O mesmo aconteceu com o aposentado João Xavier, de 71 anos, que também fez o caminho do Restaurante Popular à sua casa a pé.

“Nem quem tem dinheiro pra uber está conseguindo pegar. E nós, que não temos dinheiro, ficamos sem opção: ou anda, ou espera até não conseguir mais”, disse Xavier.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *