1 de maio de 2024
Política

ECOS DE OUTRO 7 DE SETEMBRO

Guardas russos em Tsarskoye Selo (1832)- Franz Krüger – Museu Tsarskoye Selo, Pushkin, Rússia


Na idade que não cabe pressa, só o que é simples e essencial importa.

Quem demonstra isso com clareza,  são os netos.

Surpreendente como são capazes de mostrar saídas para problemas aparentemente insolúveis.

Até mesmo casos perdidos, com os dias contados, fadados ao fracasso, impeachment ou interdição psiquiátrica de um presidente de republiqueta.

O que fez o avô para encurtar as noites de sábado em irrequietas companhias?

Depois de esgotadas as estórias e as guloseimas proibidas pelo pátrio poder, nada como acionar a velha e deseducadora TV.

Nas primeiras cochiladas, e para induzir o reparador sono, acionada a função mudo.

Eureca!

Coisa tão simples, pode estabilizar o mercado de capitais, frear a inflação de dois dígitos, resolver conflitos da conchinchina, agilizar as reformas e ser o início da retomada do crescimento econômico.

Lembrar do desempenho de um loquaz primeiro mandatário, sem o som, é de causar arrepios, emoções e espanto.

O homem gesticulava com a maestria de quem era iniciado na língua de sinais.

Caminhava na cadência ritmada de marcha militar, passando a sensação  de segurança que todos necessitavam.

Tomava atitudes inesperadas, fora do protocolo, com grande simbologia.

Ia pra galera de peito aberto, e mesmo sem o áudio, ouvia-se alto, o ensurdecedor grito de guerra.

Mito! Mito!

Não beijava as criancinhas como qualquer candidato a vereador. Sabia fazer diferente. Parecia dialogar de igual para igual com elas.

Acompanhado dos ministros, passava a ideia de total controle sobre a máquina administrativa.

Ao seu lado, o saudoso Guedes, com aquele aspecto de quem não dormia há meses, transmitia a certeza  que as finanças estavam sob controle.

No seu primeiro 7 de setembro, a lua de mel já havia acabado,  mas o capitão-presidente ainda conseguia emudecer as oposições.

Tudo poderia ter sido bem diferente dali pra frente, incluído o enfrentamento da pandemia que aportou em poucos meses.

Se não fosse o maldito do microfone.

Bastava que as emissoras de televisão tivessem adotado técnicas de cinema mudo nos seus noticiosos.

E a  cada aparição bolsomínia, todos os áudios tivessem sido desligados. E nada de sonoras.

Para aumento da percepção de dinamismo, as imagens poderiam ter sido  apresentadas ao fundo musical de Tico-tico no Fubá.

Dois anos depois, na mesma festa cívica, sem desfiles militares, um golpe retardado e certeiro abalou  a confiança do rebanho e a fé dos irmãos caminhoneiros.

Discursos inflamados com recheio de ameaças, antes que o galo cantasse três vezes, viraram fala mansa em humilhante nota de arrefecimento, vista pelos fundamentalistas como manobra de dunquerque, só para não batizar a estratégia com adjetivo escatológico.

Restava uma esperança quântica.

Se o selvagem da motocicleta tivesse rompido um portal para um universo paralelo, e ouvido o Ex-rey Juan Carlos, de España antes que o imenso bananal começasse a virar uma Venezuela:

¿Por qué no te callaste?

 

Desfile Militar na Praça da Ópera (1830) – Franz Krüger – Galeria Nacional, Berlim

(Adaptação de texto publicado em 12/09/21)

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