Efeito Ucrânia: Planalto invadido agora é tratado como golpista
Por Josias de Souza
Lula terá que lidar nos próximos dias com algo que pode ser chamado de Efeito Ucrânia.
Dias atrás, Lula disse: “A decisão da guerra foi tomada pelos dois países.”
Soou como se achasse que a invadida Ucrânia tem culpa pela invasão das tropas da Rússia. Agora, as circunstâncias colocam Lula, por assim dizer, dentro dos sapatos do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
O vídeo que forçou Lula a retirar o general Gonçalves Dias do Planalto às pressas, pela porta de incêndio, forneceu o material que faltava para que o bolsonarismo sustente numa CPI do Golpe, agora inevitável, a tese segundo a qual o governo é culpado pelo 8 de janeiro. Lula e seus operadores terão de molhar a camisa para desmontar a versão fake segundo a qual o Planalto invadido pelos vândalos bolsonaristas é culpado pela invasão.
As cenas que estão por vir são constrangedoras.
Lula está impedido pelos fatos de alegar que foi surpreendido com a divulgação das imagens. Nelas, o general Gonçalves Dias, velho amigo do presidente, aparece na cena do crime abrindo portas e indicando rotas de saída para os criminosos que vandalizavam o Planalto.
Em 12 de janeiro, quatro dias depois da intentona bolsonarista, Lula disse que assistiria a todas as imagens do quebra-quebra. Declarou que estava convencido de que houve conivência com os invasores. “A porta do Planalto foi aberta para essa gente entrar”, afirmou na ocasião.
Nos dias subsequentes, a Presidência afastou cerca de 80 militares responsáveis pela segurança do Planalto e do Alvorada. Foram exonerados 34 pessoas lotadas no Gabinete de Seguramça Institucional.
Mas o general Gonçalves Dias, que chefiava a repartição, foi preservado.
O destino não muda o homem. Mas ele às vezes o envergonha.
Para se livrar da fake news bolsonarista que o culpa pelo golpe que sofreu, Lula terá que molhar a camisa para demonstar que foi apenas incompetente, não cúmplice. Afastou o general inepto com 101 dias de atraso.