ELEIÇÃO SEGUNDO MOREIRA
Se tivesse, como muitos, embarcado num pau-de-arara e terminado em alguma comunidade do Rio de Janeiro, teria alcançado o generalato.
Mais um dos notáveis do morro.
Da comissão de frente.
Ou diretor de evolução, se o posto alcançado na escola de samba não passasse de major ou coronel.
A vida não quis assim.
A vocação só foi revelada onde menos se poderia esperar.
Agropecuarista (pequeno).
Do ramo menos aquinhoado de tradicional família (grande) da aristocracia rural.
Morador de sítio quase dentro da cidade.
Sempre presente na Urbi et Orbi.
Prosando.
Assuntando.
Politicando.
Nova Cruz, sua Roma e universo.
Segundo Moreira gostava mesmo era de campanha política.
Tinha lado, lugar e vez.
Tapioca, jamais.
Nunca mudou de lado.
Nem de cores.
Nem de líderes.
Não bastava participar.
Era de organizar a massa.
Operacional.
Virou especialista em mobilizações.
Tudo pela manutenção dos votos prometidos, conquista de indecisos e pânico nos adversários.
Passeata era com ele mesmo.
Voz ativa na escolha dos itinerários.
Feeling aguçado para as melhores ladeiras.
E ruas mais estreitas.
Sabia como aumentar o cordão dos foliões-eleitores.
E preencher mais espaço com o menor número de pessoas.
Seus índices de metro quadrado por correligionários eram invejáveis.
Imbatível nessa equação inversa.
Se uma passeata estava menos concorrida, quase parando antes do grande comício final, dava um jeito.
De animar.
Parecer maior e impressionar mais.
Tudo começava quando abria os braços, qual um redentor.
E seguia, aos pulos, de uma esquina a outra.
Em rasantes de asas de paulistinha.
Pernadas e cangapés.
Botando a ala moça no seu lugar.
Os desanimados pra correr.
Pra frente quem vinha atrás.
Devagar quem já ia longe.
E o grito de guerra:
– E S P A I A !
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(Com modificações, este texto foi publicado há 4 anos)