7 de maio de 2024
MemóriaPolítica

FOI ASSIM (SE LHE PARECE)

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Bonaparte visitando as vítimas da peste em Jaffa (1804) -Antoine-Jean Gros – Museu do Louvre, Paris


Quando as maiores autoridades estacam sendo investigadas pelo que fizeram, ou deixaram de fazer na primavera reclusa, um texto escrito ainda quando as vacinas não estavam prontas, pode explicar o que se passou.

Sem e com (arghhh) narrativas de senador de CPI.

Na curva descendente, otimistas considerando as tropas invasoras em retirad, e a Ciência avistando  no horizonte e no mar revolto, a formação de uma segunda onda ainda maior.

Procurava-se uma solução engenhosa, como se faz para problemas mais comuns, do dia-a-dia, daqueles que recebem como elogio, a lembrança que a NASA precisa saber da esdrúxula ideia.

Baseados na certeza que o  geniozinho, se tivesse acesso a mais recursos, iria muito mais longe com suas invencionices.

E que a sonhada viagem a Marte, muito mais perto estaria.

O enfrentamento da pandemia vinha sendo feito de maneira semelhante em todos os países.

Menos no que foi abençoado e povoado por Deus.

Medidas mais severas, tomadas por alguns governos,  não afastavam os perigos por completo e um novo aumento de contaminação, sem controle,  era esperado, como um terrível tsunami.

Previsões mais catastróficas, com data  certa de acontecer, com dias contados após as primeiras aglomerações, não haviam ocorrido.

O escandaloso footing na broadway da Pipa e as irresponsáveis passeatas no início da campanha eleitoral de 2020 não alteraram a curva descendente.

O tudo ou nada que dominava o comportamento político-ideológico não permitia análise isenta e consensual dos fatos e dados.

A própria vacina que parecia ser fator agregador, único objetivo buscado por todos e esperança para a volta ao normal, transformava-se em polêmica e motivo de mais divisão.

O anúncio que algumas delas já se encontravam em fase final de testes e até em produção industrial, levantou a bandeira e a corrida começou pra valer.

A maior dúvida, esperar a imunidade alcançar todo o rebanho ou acreditar no apressamento pela vacinação, não parecia escolha tão simples, como vista hoje, depois que as experiências de laboratório deram certo e chegaram aos ombros de quase todos.

Sem um comando único como seria esperado e salutar, menos pelo STF, as diferentes iniciativas dos estados aumentavam a polêmica.

Camuflada em preconceito, a ching-ling foi por antecipação, a campeã absoluta da rejeição.

Correu até o risco de ter a data de validade vencida, antes de aceita.

E trouxe junto, mais impasse.

-A imunização deveria ser compulsória?

Antes que misturassem seringas e algemas, foi sugerido neste território livre de unanimidades e burrice, que deixassem o espírito autoritário de Oswaldo Cruz em paz.

Tudo se resolveria com um reality show.

Era só manter  em isolamento, numa casa vigiada ou fazenda escandalosa, os principais personagens da polêmica. Era o caminho anunciado.

Toda semana, votação por telefone, paredão e a saída de um brother com sua vacina recusada.

Prometia um sucesso nunca visto, a discussão sobre as vantagens de cada imunizante, os conchavos e armações para sua aceitação.

A turma do calça apertada  contra a dos bozomínions.

O debate científico ente o Ministro Panellero e o Dr. Druida Vareda.

O Professor Pardal Nicolelis contra todos, querendo aparecer.

Com Pedro Bilao  no comando, não faltariam novos heróis no panteão nacional.

E se não desse certo, pelo menos a gente se livraria de algumas excelências muito antes de ficarmos imunes à terrível doença.

Quem diria, as  previsões seriam tão certeiras.

E que tudo acabaria, num show de vida e morte, em mais um programa de televisão, campeão de audiência.

Plim Plim

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Primeiro esboço de “A Casa da Peste em Jaffa” (1804) – Antoine-Jean Gros – Museu de Arte de New Orleans

 

(Texto original  publicado  em 26/10/2021

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