27 de abril de 2024
Coronavírus

INIMIGO SECRETO

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Máscaras tribais africanas


Um peba na pimenta e noutras especiarias chinesas, foi o motivo da reunião das pessoas que  passaram dos bichos para  os humanos, a mais terrível doença de todos os tempos.

Wuhan, pujante metrópole,  rodeada de grandes fábricas e paupérrimos subúrbios, o cenário onde o drama começou.

Lá, o encontro da vida nova, ocidentalizada, com cultura milenar, é como o de águas de rios que custam a misturar.

Tradições são mantidas.

Operários fabris, antigos aldeões, guardam velhos hábitos e costumes.

Degustação de iguarias que o modernismo afasta dos jovens aculturados aos sabores da fast food, transformada em tragédia.

Dois  anos depois do início de tudo, é de se imaginar como as consequências da refeição familiar, estudadas ou não em laboratórios,  se espalharam por todos mais de quatro cantos  deste vasto mundo esférico.

Qual uma corrente de troca de presentes entre amigos ocultos, as indesejadas prendas foram  passando de um para outro.

Entre povos distantes, cruzando fronteiras. Sem precisar passaporte.

Quem primeiro soube dos efeitos da festança, foi a Organização Mundial da Saúde.

Às margens das águas mansas do lago Léman,  no asséptico edifício envidraçado de sua sede em Genebra, recebeu a fatídica encomenda.

Coisa pequena, não mereceu maior importância.

Quando muito, causaria alguns transtornos nas províncias vizinhas ou na pior das hipóteses, na porta larga para o mundo exterior, Hong Kong.

Nada que a experiência de prévias epidemias não contivesse a da vez, em área restrita. Tão disciplinados e obedientes são os orientais.

O pacote com a  coroa de vírus nem aberto foi.

Ficou perdido entre gráficos e relatórios. Não mereceu qualquer alerta.

Lembrancinha para ser passada à frente.

Dessas que só esperam uma oportunidade. Nada como a temporada das confraternizações para contagiar espíritos e sistemas imunológicos.

Foi mandada para a Lombardia, onde trabalham  muitos que já provaram pratos exóticos, insetos, cobras e lagartos.

E onde mora gente endinheirada que viaja, frequenta bares e restaurantes, vão a festas e  espetáculos superlotados.

E passam seus presentes, uns aos outros.

Não tardou, na ressaca das comemorações, ainda quando se estava desejando  aos próximos, melhores dias, os pacotes multiplicados e espalhados foram sendo abertos em países vizinhos.

Na Europa, ninguém deixou de sentir a força da primeira onda.

Que já teria ido longe demais, pensaram os destinatários seguintes, habitantes das terras novas das índias ocidentais.

Quem havia enfrentado ameaças maiores não iria temer outra gripezinha qualquer.

Muito menos, o que se achava o mais poderoso homem do mundo, com o título aparentemente renovado por antecipação, graças aos tempos de bonança, pleno emprego e economia a mil.

Nenhum mal haveria de cruzar o Atlântico e se o fizesse, não se daria bem no calorão do verão no sul nem na primavera que já dava os primeiros sinais e ares de sua graça, ao norte.

Erros, acertos e impensáveis perdas depois, em mais uma dobra  da folhinha do calendário,  a ciranda e o pranto não têm fim.

O que não pode acabar é a esperança.

Fechado o segundo ano que nunca será esquecido, de novo, é tempo de se desejar e esperar, melhores dias.

Que desta vez, as caixinhas dos amigos secretos, sem outras surpresas, tragam o  presente repetido.

Serão sempre muito bem-vindas, as vacinas.

Mesmo em doses fracionadas, a cada quatro meses.


P.S.

A ideia que foi postada há um ano, resistiu à violência da segunda onda de contaminação, sofrimento e mortes.

A fé na vacina e nas suas múltiplas doses, continua inabalável, com a esperança que no ano novo, chegue finalmente para todos.

Em África.

E que, de lá, cessem as notícias de novas cepas e variantes.

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One thought on “INIMIGO SECRETO

  • Luíz Costa

    O que não pode acabar é a esperança.

    Resposta

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