1 de maio de 2024
Coronavírus

JAMES BARBER LIGOU

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A ligação telefônica que violou o toque de  recolher na noite calada, pode ser atribuída às mudanças que a pandemia tem provocado nas pessoas.

Sem cobranças de tarifas internacionais, o mundo é realmente um só.

Foram-se as  fronteiras.

Isolados em distantes lares, tementes a ataques mortais dos guerrilheiros sem máscaras que agem a qualquer hora, em toda esquina, novos hábitos preenchem o tempo perdido que jamais poderá ser  buscado,  nem achado.

Em respeito à boa etiqueta,  a televisita foi anunciada com antecedência por mensagem de boa-noite, respondida automaticamente.

O destinatário-receptor estava disponível. On.

Cinquenta anos passados, sem nenhum contato, sem notícias um do outro, tortos caminhos das redes sociais põem cara-a-cara, em face time, dois colegas da saudosa turma de 1971 da Redwood Falls High School.

A alma mater nem mais existe, substituída por moderníssima escola distrital, mas as lembranças foram reacesas num prosaico comando de fazer uma chamada.

As 230 libras de peso confessadas, as penetrantes calvas e a longa cabeleira dos poucos fios que restam, não foram suficientes para impedir o reconhecimento facial.

Era ele mesmo. O sotaque garantia ser de Minnesota, do velho meio-oeste que um dia foi territorio sioux, até a infantaria do General Custer cruzar a curva do rio e em suas margens  enterrar milhares de corações de bravos guerreiros.

Meia hora de conversa.

De início, exercício de  caça-palavras no dicionário da memória preguiçosa, para logo  surgirem as frases enferrujadas, magicamente soltas do azinhavre da falta de prática.

Colega de pouca convivência num sistema de estudos onde alunos são móveis e professores,  estáticos.

Roteiro de grade escolar que faz de cada viajante, no tour do conhecimento, um mochileiro solitário, parando em cada capitania do saber.

Mesmo sem recordações marcantes, não houve as clássicas e embaraçantes perguntas dos encontros fortuitos.

De quem é quem, de onde mesmo e a mentira social de dizer lembrar do ilustre desconhecido.

A curiosidade se com aquela  cara de aposentado bebedor de cerveja, o distante amigo havia sido pastor evangélico, desfez qualquer dúvida.

Os dois prístinos cardinals estavam em pleno gozo das faculdades mentais.

A conversa de planos futuros, depois da majestosa festa de colação de grau, nunca foi esquecida.

Enquanto o estudante estrangeiro tentava explicar o que era um exame vestibular, os outros contavam das respostas já recebidas das universidades onde os currículos haviam sido aprovados e a família podia pagar as estratosféricas mensalidades.

A turma do fundão não se inibia de programar voos em baixas altitudes.

Cursos técnicos para depois abrir um salão de barbeiro ou  os que não viam a hora de vestir os macacões que garantiam um bom lugar nas castas de carpinteiros e agricultores.

A ideia do seminário não progrediu. A vida foi feita na burocracia das HMOs (Health Maintenance Organizations), os  planos de saúde dos gringos.

Uma paixão juvenil apressou a formação de uma família de quatro filhos, com netos igualmente apressados, já em idade de dirigir e comprar booze.

A outra saga, do interlocutor, o estranho aluno   entre tantos descendentes de escandinavos, romanceada nos trópicos, mostra que em comum, a pandemia reaproxima distanciados.

Nice seeing you, Jim.

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