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Envolvido com outros interesses e ocupando cargos burocráticos, o colega já não andava muito ativo na especialidade médica.
Nas devidas e respeitosas comparações, era um verdadeiro cowboy-cantor.
Contava muitas estórias.
Relatava casos de difícil resolução.
Toda pinta de cirurgião mas na prática, não fazia mais procedimento cirúrgico algum.
Há muito, havia pendurado o bisturi.
Como vaqueiro de shows de quermesse, na hora que puxa o revólver e todos esperam que atire, assopra no cano da arma e começa a cantar Oh Suzana…
Para testá-lo, o companheiro de jantar, sem assunto mais sério a tratar, recorreu a um epônimo, pois especialista que se preza sabe de todos que são homenageados, cedendo os nomes aos mais modernos materiais e equipamentos.
Perguntado sobre a experiência pessoal com o uso das “placas de Dias D’Ávila”.
Nome imponente, bem que poderia ser mesmo de um grande ortopedista, se não fosse do colonizador que acompanhou Tomé de Souza em andanças e aventuras pelos sertões baianos, tendo virado nome de cidade.
Entusiasmado, o agora futuro ex-amigo revelou-se não só discípulo do “colega lusitano”, como também o potiguar com mais experiência no emprego das suas órteses.
O chutaço só não passou muito mais longe da meta, porque o facultativo estava de carro novo.
Naqueles tempos de ágios, era comum a compra de automóveis em outros estados.
Meio desligado, não lembrava onde havia sido feito o emplacamento original.
Não faltou com a verdade.
Vinha usando placas de Dias D’Ávila – BA.
(Primeira publicação em 10/04/2019)