1 de maio de 2024
Comportamento

MEDOS RENOVADOS

O homem desesperado, também conhecido como ‘O homem louco pelo medo’  (1844) – Gustave Courbet – Museu Nacional de Arre, Arquitetura e Desenho, Oslo, Noruega


A
misofobia dos que têm  horror ao contato com a sujeira, contaminação e germes, ganhou outro pavor que tem resistido às vacinas.

Coronafobia.

Os nomes esdrúxulos se perdem no pouco uso,  mas ainda guardam um certo status.

Chique ser claustrofóbico, desses que preferem subir lances de escada, e nem anestesiados entram no tubo da ressonância magnética.

Algumas servem para deixar o interlocutor apavorado com  a própria ignorância.

Aracnofobia, é moleza.

Aerofobia, é pra deixar qualquer um nas nuvens, cantando o megassucesso de Belchior,  segurando a mão da moça da poltrona ao lado.

Justo Veríssimo, imortal personagem de Chico Anisio, ao desejar a explosão de grande parte da humanidade, não revelava outro sentimento, que não, a Aporofobia.

Amaxofobia é para os feras de dicionário, e do jogo das palavras cruzadas.

E pra  consultar o pai de todos os burros e voltar para a autoescola.

A longa lista não tem fim.

Conta o empresário, que depois de longo tratamento, livrou-se da sua.

Por muito tempo não suportava ver palitos de dentes.

Mesmo que não estivessem cutucando os cacos.

Abominava até  os embalados individualmente em papel celofane, nas mesas das churrascarias.

Passava mal, como se atacado por crise de asma.

Aversão tão inexplicável  quanto a que surgiu em  substituição.

Passou a ter, pavor às dentaduras.

Não conseguia assistir as videocassetadas que repetem exaustivamente próteses saltitantes, deixando murchas as bocas dos noivos na hora do sim.

Nem o bispo escapa da covardia incontornável.

Ninguém sabe se foi só susto, a reação da Vossa Reverendíssima quando em visita aos diocesanos, num sítio castigado pelo calor inclemente do sertão.

Ao seu pedido para matar a sede, a recomendação que trouxessem a caneca de alumínio que já estava cheia de água fria, quase gelada.

A troca involuntária por outra igualzinha que servia para guardar a chapa da patroa, acabou em estrepitosa regurgitação pontificial.

E muitos pedidos de desculpas da devota, com medo dos infernos de um  castigo, digamos, celestial.

 

O Desesperado (1843) – Gustave Courbet – Coleção privada


(A lista postada originalmente em 8/12/2019, foi revista para republicação)

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