27 de abril de 2024
Familiafutebol

MINHA VIDA DE CARTOLA

 

Mané Garrincha (1997) – Rubens Gerchman –

Que nos quatro cantos deste mundo esférico como uma bola, o futebol é apaixonante, ninguém discorda.

Ainda não se tem certeza é quando o cupido lança  a primeira flecha que deflagra o idílio.

Pode ser na maternidade,  na plaquinha na porta, com o nome do recém-nascido e o escudo do time do papai.

Ou quando chega o tio que vai ser o boa-praça a levar o futuro torcedor aos estádios.

Com a camisa do adversário.

O interesse pelo ludopédio vai aumentando nos primeiros passos  e se o rebento tiver pinta de craque, já troca as fraldas pelo uniforme da escolinha.

Para embalo dos sonhos do neymarzão , assinando contrato com o Barcelona.

O primeiro álbum de figurinhas sela de vez a fidelidade ao esporte preferencial para a vida toda.

Os modismos vão e voltam.

O apego  permanece.

Entre os que ainda não foram, um está surfando as maiores ondas na praia virtual.

O garoto sai das quatro linhas e passa a dirigente e dono da pelota e de um time todo.

Com amplos poderes para escolher o nome, o uniforme da equipe, o técnico,  e os onze craques e reservas-pernas-de-pau que entram na cancha cibernética.

Administrada por presidente e dois diretores técnico executivos, a equipe conseguiu o virtual  patrocínio master do maior banco do país e nas mangas do uniforme, ostenta a logo de uma das grandes lojas de eletrodomésticos.

Nas cores monocromáticas do ABC e batizado com o nome de edifício no pé do morro do Tirol, o FC Dom Diniz vinha tendo um baita desempenho para um estreante na liga, até ingressar em fase preocupante.

Crise à vista.

Convocado pelos netos sub-7 e sub-5, o avô,  torcedor de copa do mundo, comparece ao encontro marcado para tratar de assunto urgente e dos altos negócios do sodalício familiar.

O local e horário não poderiam ser mais adequados.

Um sports bar durante mais uma vitória do Flamengo. Com chopp liberado somente para o cartola senior.

Pelos parvos conhecimentos do mercado da bola, o dirigente máximo ocuparia cargo apenas honorífico se não fosse dele o  smartphone das transações, compras e vendas de atletas.

Aquela reunião traçaria o planejamento estratégico e a  trilha a ser seguida sem mais vacilos atávicos.

Compromissos firmados sob testemunho do tiozão e da imensa torcida rubro-negra presente à arena etílica.

A tática adotada não poderia sofrer mudança.

O testado e aprovado 4-3-3.

Convocação de três jogadores top.

Quatro ou cinco estrelas do Flamengo.

Um goleiro pouco frangueiro e um técnico que não se chamasse Vanderley Luxemburgo.

Tudo certo e acertado.

Até o fechamento da janela de negociações antes da rodada do fim de semana.

Escalação completa no print, prestando contas no celular materno.

Não tardou, o imediato retorno em áudio com a decepção externada na vozinha aflita e suplicante:

Vovô, você promete que vai comprar Ewerton Cebolinha de novo?                   eu dou um beijo e um abraço bem grande.

Futebol é pura paixão.

Super homens 2X0 (1965) – Rubens Gerchman

As obras pertencem ao Instituto Rubens Gerchman  http://www.institutorubensgerchman.org.br/

Rubens Gerchman (1942/2008) foi o autor da capa do disco Tropicalia ou Panis et Circenses em 1968, sobre fotografia de Oliver Perroy

(Texto de 30/09/2019, escolhido especialmente para ser republicado no day after das eleições, para lembrar a vitoriosos e derrotados, o que realmente importa na vida.                                                                E que eleição é como copa do mundo, daqui a quatro anos, tem outra)

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