NÃO SE FAZEM MAIS CANDIDATOS COMO ANTIGAMENTE
Americanos costumam esperar um tempo mais longo para sepultar seus mortos.
Sete dias é o que leva a organização das exéquias, comunicação aos amigos e convite para as cerimônias fúnebres.
Há cinco anos, quando faleceu o Senador John McCain, correligionário republicano, representante do Arizona na alta câmara por 31 anos, a viúva não fez o convite ao Presidente Trump.
Justificou ausência por querer manter a dignidade da cerimônia.
A maneira como o de novo candidato (derrotado) reagiu ao veredicto das urnas prova que a aparente desfeita da família enlutada era justificável.
O secular costume do perdedor preceder ao discurso do vitorioso, faz parte da grandeza da democracia americana.
A oportunidade do agradecimento aos eleitores, às equipes de campanha e aos voluntários que participaram da luta que foi vencida.
O reconhecimento da derrota também pode ser a oportunidade do candidato mostrar sua real envergadura.
Sinaliza o espaço que vai ocupar nos livros de História.
Donald Trump, o outsider que conquistou o mais alto posto político em todo o mundo, na primeira eleição que disputou, aos 70 anos de idade, vitorioso na vida empresarial, já disse e repetiu, nunca está preparado para perder.
Os mais conhecidos membros do seu partido até que tentaram facilitar o gesto que todos e o bom senso esperavam.
O próprio opositor, obrigado a inverter a ordem da liturgia de encerramento da apuração dos votos, não podia ter sido mais elegante com o derrotado.
O comportamento do eleitorado foi melhor que o esperado.
Depois da onda de violência que se alastrou pelo país nas manifestações contra o racismo e a violência policial, as cenas de revolta e destruição não se repetiram.
O povo foi às praças só para demonstrar alegria e alívio. Com música, dança e congraçamento.
Em certa medida, as pessoas até respeitaram as normas sanitárias de prevenção da pandemia que ainda grassava.
Uso de máscaras, distanciamento recomendado.
E comício drive tru.
A nação dividida ao meio, nas cores da bandeira, aceitou, pacífica, a verdade que saiu do complexo sistema eleitoral.
Na reflexão que se seguia ao grande embate, a convicção da importância do princípio da alternância do poder e do equilíbrio das forças que se opõem no parlamento.
A divergência que parte de onde não devia, pode também vir a ser uma lição a ser aprendida na solidão do poder que se desfaz lentamente, até desaparecer. Para surgir, revigorado, em outras mãos.
Sem qualquer prova de fraude eleitoral, a aceitação da derrota sem incentivo à quebra da ordem institucional e suas consequências jurídicas, teria sido bem menos traumática se espelhada no concession speech, o discurso de reconhecimento, de 2008.
O herói da Guerra do Vietnam onde foi prisioneiro por seis anos, com sequelas físicas adquiridas em combate, durante sua campanha presidencial, repreendeu uma eleitora que acusava o opositor Barack Obama de ser o perigo árabe.
“- Não, senhora. Ele é um homem de família decente, um cidadão que eu tenho diferenças só em questões fundamentais.“
Ao admitir a vitória do adversário, ressaltou seu papel na eleição do primeiro afro-americano, presidente do país da igualdade e das oportunidades para todos.
“- Meu coração se enche de gratidão pela experiência e ao povo americano por me ter ouvido antes de decidir que o senador Obama e meu velho amigo, Joe Biden, deveriam ter a honra de nos liderar pelos próximos quatro anos”.
Trump insiste em não aprender a lição de McCain.
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(O texto, Um Modelo para Trump, publicado em 8/11/2020, sofreu alterações temporais)
Continuo fã do dos seus textos correntes e abalisados. São como o sal no meu ovo e o açucar no meu café. Ao longo da história de nossa li
teratura os médicos marcam presença positiva.
Professor, o senhor é suspeito, pela nossa amizade.