Napoleão em Roma
ROMA
* Napoleão Veras
As manhãs de Roma
Apartam-se das madrugadas
Com uma face grave, de chumbo
E todas parecem iguais, superpostas – como reparei da janela do hotel
E que me lembraram seu extremo, a noite em Fernando Pessoa – antiquíssima e idêntica
Que me faz querer entender
As manhãs do Império
à luz de hoje:
Júlio César acordando-se morosamente
Trançando a sandália nas pernas de muito batalhas
Talvez a ocultar alguma arma (por interesses vários contrariados)
Mas que não lhe serviu quando mais precisou
E alegre passou aquela lavanda dos campos infindos dos seus domínios
Sem pressentir, sem a mais remota suspeita…
Indo elegante e sóbrio ao Senado como cabe a um imperador, senhor de todas as almas daquelas estremaduras
Indo encontrar os punhais que lustrados vinham em sua direção, ferozes, sob vestes de muito pano, com a mancha oculta da premeditação.
(Nov/2023)