3 de maio de 2024
Poesia

Napoleão em Roma

Pablo Picasso

ROMA

                             * Napoleão Veras

As manhãs de Roma
Apartam-se das madrugadas
Com uma face grave, de chumbo

E todas parecem iguais, superpostas – como reparei da janela do hotel
E que me lembraram seu extremo, a noite em Fernando Pessoa – antiquíssima e idêntica

Que me faz querer entender
As manhãs do Império
à luz de hoje:
Júlio César acordando-se morosamente
Trançando a sandália nas pernas de muito batalhas
Talvez a ocultar alguma arma (por interesses vários contrariados)
Mas que não lhe serviu quando mais precisou

E alegre passou aquela lavanda dos campos infindos dos seus domínios
Sem pressentir, sem a mais remota suspeita…

Indo elegante e sóbrio ao Senado como cabe a um imperador, senhor de todas as almas daquelas estremaduras

Indo encontrar os punhais que lustrados vinham em sua direção, ferozes, sob vestes de muito pano, com a mancha oculta da premeditação.

(Nov/2023)

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