6 de maio de 2024
Opinião

Natal: crescer ou não essa é a nossa questão

Roda Viva – Tribuna do Norte – 17/05/23

O crescimento negativo de Natal com redução de 51.807 vidas (quase a população de Assu, nossa oitava maior cidade, 53.227 habitantes) nos últimos 12 anos, segundo o IBGE, tem conseguido incomodar e – ao mesmo tempo – inibir o natalense responsável, sem conseguir dar a visibilidade necessária a esse grande problema que precisa ser dissecado em todos os ângulos.

Esta Tribuna do Norte mantendo a promoção “Motores do Desenvolvimento”, além, do Ministro das Cidades, Jarbas Barbalho Filho, ainda trouxe para a discussão do assunto outros nomes de grande credibilidade e respeito.

Mas nem isso conseguiu destravar o natalense e o convencer a abraçar uma questão dessa importância, talvez pela tentação de começar pela distribuição de culpados e responsáveis.

Quem pode falar nesse processo, que – felizmente – vem sendo mudado? Ao longo de 12 anos quem teve alguma atuação governamental tem preferido ficar calado. – Afinal, em boca fechada não entra mosca.

QUEM TEM MEDO DA VERDADE

Será que o atual Prefeito de Natal está impedido de assumir o comando desta discussão, por que uma parte desse crescimento negativo da nossa capital pode ter acontecido durante sua gestão?

Seria imaginar que uma mudança capaz de atingir uma comunidade de 800 mil habitantes fosse acontecer do dia para a noite, fruto da ação isolada de um governante ou de um grupo de pessoas, e não em razão de uma política adotada ao longo de muitos anos, como parece o nosso caso.

Criado no Governo Militar para estabelecer parâmetros no crescimento urbano do Brasil, graças aos planos diretores, concebidos numa nítida inspiração capitalista e de modelo voltado para atender prioritariamente a população de alta renda, começando pela opção pelo crescimento horizontal, uma escolha muitas vezes mais cara, a partir de um modelo assembleísta gerido por técnicos pautados por estarem submetidos a forte influência ideológica contra o governo central.

QUANDO NATAL REAGE

A atividade imobiliária é o melhor termômetro para indicar o ritmo de crescimento ou encolhimento de uma cidade. Em Natal o interesse por novos empreendimentos aumentou com força em 2021 e 2022, numa virada de jogo.

Segundo a Semurb as consultas prévias saltaram de uma média de 9 para 40, referentes a construções de habitações multifamiliares. Isso representa um aumento de 344% em curto período.

Não existem dúvidas: após uma década de intensa diminuição da atividade imobiliária em Natal, o interesse por novos empreendimentos aumentou fortemente e a razão da mudança é apontada pela recente aprovação de mudanças no Plano Diretor de Natal, em 2022.

A coordenadora técnica do 40º seminário Motores do Desenvolvimento, a arquiteta e urbanista Sophia Motta, analisa os fatores que provocaram os tais resultados da vigência de uma versão nova e no conteúdo do Plano Diretor que vinha com antigos vícios desde 2007.

COMO VAI O BRASIL

E a atual situação nacional? A manchete do Estadão, no começo da semana, não deixa dúvidas: “Intenção de compra de imóvel cai ao menor nível desde 2020”.

Bem diferente da tendência nos doze anos em que Natal diminuía e o Brasil se mostrava firme forte no seu crescimento.

Natal parou de crescer quando a tendência nacional era de percorrer o sentido contrário, do jeito que sua reação conflitante é divergente do resto do Brasil.

Afetados por juros altos, que aumentam os custos dos financiamentos e pela volatilidade do mercado de trabalho, brasileiros estão vendo a casa própria virar um sonho cada vez mais distante. No primeiro trimestre do ano, 40% pretendiam comprar um imóvel residencial novo ou usado nos próximos três meses. Em março a taxa média estava em 11%, o maior valor desde 2026. Nos cartórios essa tendência é facilmente constatada.

NÃO DEIXE A VIDA NOS LEVAR

Este singelo artigo tem uma enorme pretensão: – tirar o natalense – natalense de todas as camadas sociais, da zona de conforto, onde ele se internou quando sua cidade contrariou toda a sua história e trajetória/vocação tolerando a perda do seu crescimento constante e sequenciado para atender uma legislação contraria ao seu DNA.

Uma cidade comprometida com a melhoria de sua qualidade de vida não combina com seu povo (e sua liderança) adotando uma filosofia de pagode de subúrbio: “Deixe a vida me levar… Vida leva eu…”

Começando por alguém que imagina se livrar de um problema ficando calado, quando na verdade está transferindo para o futuro eventuais questionamentos, quando não terá o comando da discussão; começando se tiver alguma atuação na mudança de uma tendência que se instalou no governo para assistir a banda passar sem nenhuma atitude capaz de esboçar uma reação digna de Natal, contra o conjunto de comportamentos e atitudes que resultaram numa derrota de todos – como consumou-se.

 

 

 

One thought on “Natal: crescer ou não essa é a nossa questão

  • José Fortaleza de Lima Filho

    Me revolta o que os gestores dessa linda cidade onde nasci faz para nos atrapalhar ao ponto de nos idos da horrível gestão Micarla eu não aguentar mais e me refugiar no interior. Enquanto testemunhava a derrocada da minha cidade, também apreciava com certa pitada de inveja o desenvolvimento da antes acanhada João Pessoa.
    Tomara que as expectativas se concretizem, e tenhamos uma cidade crescente e acolhedora para nós e os que nos visitam.
    Parabéns por trazer esse tema tão importante.

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