NOMES PRA CAVALO
O destino do país sempre viajou nas quatro patas dos cavalos.
À falta de estradas e palanques, devemos os anúncios da Independência e da República aos lombos deles.
E às espadas desembainhadas.
Meios de transportes mais modernos não tiraram dos corcéis, os lugares que conquistaram.
Nos tempos que o cargo era privativo do generalato, o último deles dizia preferir o cheiro das baias ao do povo.
Pela inocência de um neto, um capitão paraquedista também cavalga a História.
No fervor da disputa, às vésperas da eleição do segundo turno, em 2018, os netos vão à fazenda.
Animais selados, e o tão aguardado passeio.
Antes, as apresentações de praxe:
–Este é o Pé-de-Pano. Mansinho, na medida para a criançada.
-O outro é mais arisco e ainda não tem nome.
Foi quando o neto de três anos fez o pedido.
Queria batizar o quadrúpede.
Sabe como é avô.
Mas o nome escolhido não tinha como dar certo.
Não adiantaram os argumentos.
Que nome de cavalo é diferente de nome de gente.
Que ao invés do escolhido, melhor seria um outro nome que apenas evocasse, se referisse ao homenageado.
– Capitão, Presidente.
Sugestões rejeitadas.
Ali mesmo, muito longe do Rio Jordão, o equídeo recebeu nome e sobrenomes: Jair Messias Bolsonaro.
Mas atende pelo de guerra.
– Êia. Pra frente!
– Vamos lá, Bolsonaro!
Parece que o garoto sabe dar nome aos bichos.
A alcunha pegou.
Difícil agora é explicar porque é perigoso o apelido escolhido para a mais nova aquisição do plantel.
Vai que a Ministra da Integração Racial, Arielle Franco resolve dar um rolé por esses pés da Serra de São Bento….
Em respeito à consciência negra, é melhor arranjar outro nome para o ginete garboso que anda erguendo o pescoço com tanta altivez:
Escurinho
(Partes deste texto foram publicadas originalmente em 11/03/2019)