26 de abril de 2024
Comunicação

NOSSA LÍNGUA POTIGRESA

A pequena Torre de Babel (1553) – Pieter Bruegel, o velho – Museu Boijmans Van Beuninger, Roterdã, Países Baixos


Estamos perdendo o sotaque, o jeito e a identidade.

O vocabulário crowded (entupido) de estrangeirismos nos faz falar mais parecidos com a turma do gueto de Flusing Queens que da galera de Santos Reis.

Repórteres e apresentadores de TV desenvolveram um dialeto próprio, pasteurizado, que só permite a identificação da origem das notícias, pelos créditos no rodapé da telinha.

O ponto sem volta foi atingido na geração das crianças que passa mais tempo em outros écrans menores, cheios de onomatopéias, buááás, sniffs, kkk e rs…

São testemunhas e partícipes da formação de um novo idioma, uma língua do p aperfeiçoada em áudios, podcasts e lives dos youtubers.

De onde transmitem suas mensagens, ninguém descobre.

São todos habitantes da mesma província,  circulam  no mesmo território eletrônico, em ondas propagadas no novo gás que substituiu o éter, o ciberespaço.

Também vai levar um tempo para a psicopedagogia tirar conclusões precisas sobre a influência das escolas bilíngues do ensino fundamental e da comunicação dos bebês que aprendem nas classes maternais mais palavras no idioma alienígena que pátrio.

Mesmo que  pesquisas mostrem as vantagens do bilinguismo modificando a forma da elaboração do pensamento, mudanças mais profundas  podem transformar quem seria um  autêntico representante de ilustre família de  Timbaúba dos Batista num dândi de South Kensington.

Com o perigo do cérebro dividido em dois, formar uma dupla personalidade.

Um pé no Seridó, outro em Albion.

1.

Bastaram seis meses na escola escolhida pelo casal de médicos inteligentes que enriquecem juntos, pelo critério da mais cara e de mais status, para a procura de ensino mais tradicional ser necessária.

O diálogo em casa estava quase impossível.

O pequeno poliglota já tinha vocabulário mais rico na segunda língua e no pouco tempo de convívio com os pais sempre ocupados, o inglês macarrônico não acompanhava a fluência do projeto de gente.

2.

O ciumento avô já estava culpando o rival cearense pelo chiado que os netos vinham apresentando, até o dia em que recebeu o convite e a ordem dos netos para assistirem o canal de Whindersson Nunes.

3.

O novo estagiário do pronto socorro ainda não tinha tido tempo de aprender o nome de todos os plantonistas quando foi perguntado quem havia orientado a prescrição que estava fazendo, fugindo um pouco dos protocolos com mais robustez científica, e identificou o preceptor pelo sotaque.

Foi logo entendido.

O operante colega, carioca das Quintas Superficiais, com estágio na Vila Naval e R2 de Marinha.

Positchivo?

A Torre de Babel (1563) – Pieter Bruegel, o velho – Museu Kunsthistorisches, Viena, Áustria

Assista o vídeo:

CAETANO E ELZA SOARES- LÍNGUA- PROGRAMA CHICO E CAETANO

(Publicação original 21/03/21)

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