2 de maio de 2024
MedicinaMemória

O MORDOMO DA VEZ

O mordomo-mor na Aclamação de D. João IV em 1614 (1823) – José da Cunha Taborda – Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa


Quando faltava vacina, todos brigavam e ninguém tinha razão.

O que poderia ter sido a oportunidade única de união nacional, foi fracionada em tantas doses, origens e grupos que serviu ainda mais para divisões, desentendimentos e disputas.

Quando tudo passasse, depois da contagem final das perdas, mesmo na imensa saudade dos mais queridos que nunca acabará, a apuração dos ganhos seria feita.

Os valores dos movimentos antivacinas ainda não ocuparam as primeiras colunas dos haveres.

A contabilidade imunológica ainda mostra expressivo número de pais que deixam os filhos menores sem direito a ter suas próprias defesas contra doenças que já foram comuns, pareciam ter acabado mas, quando e onde menos se espera, voltam, maltratam e destroçam.

A nação rachada ao meio segue politizando tudo.

Lados e  programas doutrinários são defendidos com as armas afiadas das redes sociais.

A mais recente volta da Dengue lembra diagnósticos insustentáveis, das gripezinhas banais às opções terapêuticas indefensáveis, passando pelo não tratamento em fases  precoces controláveis da doença.

O medo e a poesia entram na polêmica e vencem todas as disputas.

Imunizar é preciso.

Viver não é preciso.

Vencido o preconceito da origem da salvação, pela evidência que na regra clara, era pegar ou largar.

E quando só tem tu, que viesse do jeito que viesse.

Da China, da Índia, da Sibéria.

Até de Cuba se verdadeira tivesse sido a descoberta da vacina vermelho radical.

Na Covid, com muito deltoide pra pouca seringa, a inevitável divisão das castas aconteceu.

Os mais expostos primeiro, depois os mais velhos.

Tão simples apartação, aparentemente singela e pacífica, bastando a apresentação da carteira profissional e a certidão de nascimento.

Estratégia, motivo de litígio que operou milagres.

Revelou idades secretas  e apresentou filas a estreantes.

Madames recauchutadas, sob máscaras e imensos óculos escuros, não garantiram o anonimato nem esconderam informações privilegiadas sobre contagem de velinhas.

Reis pacientemente esperando a vez, agradecidos aos mais humildes súditos, felizes com o que conseguiram sem nada subtrair das suas incalculáveis fortunas.

Na preservação das mais caras tradições nacionais, as soluções  ficaram pra depois, levadas na pança pelos governantes.

O importante era  convocar todos para as emoções do Jogo do Mordomo.

Objetivo único, encontrar o culpado.

Agora, com a falha do controle do mosquito, volta a esperança em outra vacina.

Que também não tem pra todo mundo, mas desta vez sem a mesma cobrança dos cientistas das bancadas de TV.

Mudou o mordomo, ou o culpado continua sendo o que foi demitido há mais de um ano?

 

Aclamação de D. João IV  (1823) – José da Cunha Taborda – Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa

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