4 de maio de 2024
Memória

ORGULHO DA FAMÍLIA

 

A Família (1925) – Tarsila do Amaral – Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, Espanha


Quem nunca espalhou a todos os ventos, por todos os cantos, as façanhas, peripécias e conquistas dos pimpolhos?

Alguns arautos familiares criaram fama, e passaram às gerações seguintes, o esplêndido berço onde não deitaram.

Motivos de inveja e chacota, mas nenhum parente vai esquecer de lembrá-los.

Seus pequenos artistas, como o logorreico papagaio que ficava mudo quando levado aos programas de auditório, nunca repetiam os fenômenos, ao vivo.

O menino ainda nem sustentava a cabeça e diziam, fazia tantas estripulias que já dava pra trabalhar no Circo Nerino.

Essas crianças completaram todas as fases evolutivas, entraram na puberdade e passaram pela adolescência, sem turbulências nem mares revoltos.

Vestibular ou qualquer outro funil, aprovados de prima volta.

Nos cursos mais concorridos, no primeiro semestre.

Nas federais.

Formados, bem sucedidos desde o estágio curricular.

Daí para trainees e gerentes gerais, são dois pulos.

E nenhum parente ou aderente deixa de saber das promoções, progressões e níveis dos planos de cargos.

Tudo seria muito perfeito se não sobrasse para os outros.

Os primos normais.

Que fizeram xixi na cama, até depois dos cinco.

Ameaçaram sair de casa, aos 14.

Tiveram dúvida se queriam ser mesmo baterista de banda de rock.

Ou surfista profissional.

O que antes era propagado por cartas e bilhetes, hoje corre na velocidade da luz, do Facebook e do Instagram.

As novas fornadas recebem muito mais lenha para manter acesso o fogo da pequena vaidade.

São trombetados cursos no exterior, mestrados, doutorados, pós-docs.

Essa turma ainda vai longe, em viagens maravilhosas, festas deslumbrantes de casamento e outras novas formas de celebrar o amor.

Aquela tia-avó que conseguiu atingir a perfeição no marketing da prole, transmitiu o método aos netos e bisnetos.

Mesmo passados mais de sessenta anos, quando alguém posta uma dessas pabulagens filiais, o comentário no grupo familiar é automático:

Ave, Tia Clarinda!

Segunda Classe (1933) – Tarsila do Amaral – Coleção particular


(Revisita à publicação original de 14/07/2019)

 

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