27 de abril de 2024
Imprensa Nacional

Os tanques e trouxas já estão nas ruas de Brasília

Por Josias de Sousa no UOL

Mal comparando, a blindadociata de Bolsonaro tem uma semelhança historiográfica com o Comício da Central, realizado em 13 de março de 1964, diante do Ministério da Guerra.

Ali, os blindados pareciam representar o apoio militar ao presidente de esquerda João Goulart. Agora, representariam o aval da farda ao regime civil mais militar da história.

Dono de uma genialidade que sumiu do cenário político, Carlos Lacerda chamou a manifestação realizada há 57 anos de “Comício das Lavadeiras”.

Ao explicar-se, disse que só havia no ato “tanques e trouxas”. Dias depois, os tanques começaram a prender os trouxas.

Com a popularidade em declínio e submetido a um cerco judicial que aguça os seus maus bofes, Bolsonaro coloca os blindados na rua com a mesma naturalidade com que retira a motocicleta da garagem.

Submetido a uma chiadeira, o capitão convida presidentes dos tribunais superiores e congressistas para a ostentação militar.

Partidos de oposição foram ao Supremo Tribunal Federal para tentar barrar o desfile de blindados, “particularmente nas adjacências do Palácio do Congresso Nacional”. A encrenca aterrissou na mesa do ministro Dias Toffoli.

Dado a confraternizações com a família Bolsonaro, Toffoli afinou. Indeferiu o mandado de segurança sob o argumento de que a autoridade organizadora do desfile é o comandante da Marinha, não o presidente da República. E a competência para julgar e processar comandantes militares é do Superior Tribunal de Justiça, o STJ.

A paisagem é um hábito visual.

Só começa a existir depois de 1.500 olhares, dizia o cronista Nelson Rodrigues. Pois Bolsonaro injeta anomalias em série na paisagem enquanto pisa na democracia, distraído.

Só os trouxas ainda não perceberam que passa da hora de lavar a roupa suja.

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