3 de maio de 2024
Memória

PALAVRAS SEM DESTINO

A criação de Adão (1511) – Michelangelo Buonarotti – Capela Sistina, Vaticano


Até a consorte e  patroa, leitora voraz e frequente de livros mais grossos, às vezes, desiste de ajudar na busca pela palavra mais adequada.

Aí, começa um jogo viciante de associação de ideias e situações até que apareça enxuto, desprovido de enfeites e balangandãs, o vocábulo mais que adequado e perfeito.

Quem há de saber, não será esta a explicação para a amargura dos poetas, ensimesmados entre rimas e métricas.

E assim segue a vida, sem saber onde vai nos levar, cheia de perigos, incertezas, gentílicos, alcunhas, agnomes e antonomásias.

O filho em andanças pela Escandinávia, qual Luísa no Canadá, deve ter se acostumado logo com as belezas das geleiras e fiordes.

Com fuso horário e tudo,  arranjou tempo livre pra comentar estes textículos paternos.

Perguntou, em tom mais de gozação que de crítica, quando o Território Livre iria trazer um glossário com os termos pouco habituais.

As lembranças de estórias que estavam perdidas nas gavetas empoeiradas da memória,  quando passam de HD para RAM não atualizam  o palavreado.

Deve ser esta a explicação, digamos, plausível.

Aparecem estranhas  palavras digitadas que nunca devem ter sido pronunciadas na vida.

Como no jogo do bicho, as que valem são as escritas.

De pouco uso no linguajar coloquial, surgem como se fizessem parte dos personagens evocados.

Algumas, em tonalidades desbotadas, um tanto démodés.

Agora mesmo,  o copy desk  do iPhone colocou um segundo, e esquecido, acento agudo  no galicismo.

Prova que o vocábulo não anda assim tão fora de moda.

Quando postamos alguma coisa, esperamos alcançar o maior público possível.

É natural.

E  sermos bem compreendidos.

Na imensidão da blogosfera nunca se sabe ao certo quem está recebendo a mensagem.

Nem como.

A voz interior do superego, nosso infalível feedback, explica.

Ou complica:

É a comunicação, estúpido!

Davi (1504) – Michelangelo – Academia de Belas Artes, Florença, Itália


(Reflexões sobre textículo publicado em 19/06/2019)

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