30 de abril de 2024
História

PRA GOLPE, FALTOU MOURÃO

Depredação e incêndio do prédio da UNE, no Flamengo, Rio de Janeiro, na madrugada de 1º de abril de 1964


Enquanto se discute se a
revolta das manicures num domingo ensolarado em Brasília, sem políticos, militares, nem armas, foi golpe, é tempo de lembrar o mais golpista de todos os brasileiros.

Não se pode dizer que a vida do mineiro de Diamantinaonde nasceu JK e a Princesa Leopoldina resolveu se casarOlympio Mourão Filho (1900-1972) tenha sido tranquila e calma.

Jovem tenente, participou do combate ao levante  paulista de 1932.

Ainda capitão, foi chefe do estado-maior da milícia integralista que serviu de modelo para o movimento dos camisas-verdes, espalhado por todo o país.

Apesar de ter negado nas memórias “A verdade de um revolucionário”, é considerado o autor da primeira e mais bem sucedida fakenews da história republicana.

O Plano Cohen.

De uma simulação de joguinho militar, o fictício complô de judeus e comunistas para implantar um novo regime no país, estrategicamente vazado como vindo da Internacional Socialista, foi recebido por verdadeiro.

Virou o principal motivo para Getúlio Vargas, presidente constitucional, implantar o Estado Novo e a primeira ditadura.

A ideia de eliminar todos que constassem  de uma extensa lista e fazer reféns os Ministros de Estado, presidente do Supremo Tribunal, e os presidentes da Câmara e do Senado, bem como, nas demais cidades, duas ou três autoridades ou pessoas gradas, não deixou quase ninguém contra o caudilho de Bagé.

Foi o primeiro e único conspirador de 1964, a botar as tropas na rua, em marcha de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro.

Sem resistência,  o exército invadido também aderiu ao movimento que prometia ordem na casa, seguida de eleições livres.

A faxina que durou 21 anos, começou como piada.

A trama do golpe foi batizada de Operação Popeye, pelo cachimbo,  que o general-marinheiro tinha o hábito de pitar pelos mares de Minas Gerais.

Encerrou a carreira como magistrado, ministro do Superior Tribunal Militar.

É autor de  profecia que  já serviu para boné de metalúrgico e quépi de capitão.

Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo.

Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista.

E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso.”

Quando vestiu o pijama, fez uma enigmática autocrítica, desmentida pela história e antecedentes:

Em matéria de política, não entendo nada. Sou uma vaca fardada”.

Iluminada ruminante profana.

Governador Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e os generais Mourão Filho, Antônio Carlos Muricy e Ernesto Geisel, em 1° de abril de 1964


(Contém partes de ‘Outro Mourão’, texto publicado em 23/09/2020)

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