PRA GOLPE, FALTOU MOURÃO
Enquanto se discute se a revolta das manicures num domingo ensolarado em Brasília, sem políticos, militares, nem armas, foi golpe, é tempo de lembrar o mais golpista de todos os brasileiros.
Não se pode dizer que a vida do mineiro de Diamantina – onde nasceu JK e a Princesa Leopoldina resolveu se casar – Olympio Mourão Filho (1900-1972) tenha sido tranquila e calma.
Jovem tenente, participou do combate ao levante paulista de 1932.
Ainda capitão, foi chefe do estado-maior da milícia integralista que serviu de modelo para o movimento dos camisas-verdes, espalhado por todo o país.
Apesar de ter negado nas memórias “A verdade de um revolucionário”, é considerado o autor da primeira e mais bem sucedida fakenews da história republicana.
O Plano Cohen.
De uma simulação de joguinho militar, o fictício complô de judeus e comunistas para implantar um novo regime no país, estrategicamente vazado como vindo da Internacional Socialista, foi recebido por verdadeiro.
Virou o principal motivo para Getúlio Vargas, presidente constitucional, implantar o Estado Novo e a primeira ditadura.
A ideia de eliminar todos que constassem de uma extensa lista e fazer reféns os Ministros de Estado, presidente do Supremo Tribunal, e os presidentes da Câmara e do Senado, bem como, nas demais cidades, duas ou três autoridades ou pessoas gradas, não deixou quase ninguém contra o caudilho de Bagé.
Foi o primeiro e único conspirador de 1964, a botar as tropas na rua, em marcha de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro.
Sem resistência, o exército invadido também aderiu ao movimento que prometia ordem na casa, seguida de eleições livres.
A faxina que durou 21 anos, começou como piada.
A trama do golpe foi batizada de Operação Popeye, pelo cachimbo, que o general-marinheiro tinha o hábito de pitar pelos mares de Minas Gerais.
Encerrou a carreira como magistrado, ministro do Superior Tribunal Militar.
É autor de profecia que já serviu para boné de metalúrgico e quépi de capitão.
“Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo.
Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista.
E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso.”
Quando vestiu o pijama, fez uma enigmática autocrítica, desmentida pela história e antecedentes:
“Em matéria de política, não entendo nada. Sou uma vaca fardada”.
Iluminada ruminante profana.
(Contém partes de ‘Outro Mourão’, texto publicado em 23/09/2020)