1 de maio de 2024
Política

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS MITOS

Restos do Minotauro em Fantasia de Arlequim (1936) – Pablo Picasso – Os Matadouros, Museu de Arte Moderna e Contemporânea, Toulouse, França

Na aritmética dos políticos brasileiros, dividir vem antes de somar.

São todos protegidos pelo anjo pornográfico Nelson  Rodrigues e poucos, os conterrâneos de Otto Lara Resende.

Nem burros para serem unânimes, nem  tão mineiros na solidariedade,  mesmo em  doença pior que câncer.

Nunca é  bastante a divisão que se aprofunda a cada eleição.

É preciso rotular  e carimbar as faces pintadas de guerra.

Avessas, reversas, adversas, contrárias.

Ninguém é favorável a coisa alguma.

Depois de quatro anos de solitária introspecção, dedicado a observar de longe, sem poder interferir, os rumos da caravana que já ajudou a tanger, o ex-deputado Eduardo Cunha, em sua primeira entrevista depois da longa ducha curitibana, já antevia com olhos de menino, a nudez de nossa pobreza d’alma e de quadros dirigentes.

Se em 2018, o contra venceu o a favor; quatro anos depois,  foi o contra contra contra.

O parlamento eleito na diversidade de opiniões, para estabelecer consensos e leis justas, na multiplicidade de partidos, não sabe viver sem o antagonismo sectário.

Sem linhas divisórias, sem zona neutra, sem um centro (apesar dos aumentativos ilusórios), que sirvam de referência ou ponto de equilíbrio e partida para um destino menos sombrio.

Na floresta do planalto, anda solto um espírito do mal que atrai quem nela ingressa, oferecendo abrigo, conforto e proteção.

Na estalagem de dois cômodos, o cruel anfitrião escolhe onde o viajante vai dormir.

Nas camas de ferro, o hóspede tem de se encaixar em medidas exatas.

Dos grandes, cortam-se pés e cabeças.

Esticam-se os pequenos, até que se rompam.

Na mitologia grega, encantam-se exemplos e modelos.

O desafio é descobrir na multidão de iguais, quem vai empunhar as armas de Teseu.

Alguém que prenda  os Procustos em seus leitos e os deixem acéfalos e inertes.

Que os façam provar dos próprios venenos.

Alguém que encontre o caminho certo, sabendo que mais à frente terá que desafiar outros monstros.

São muitos os minotauros perdidos nos labirintos das mazelas nacionais.

O leito de Procusto

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