PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS MITOS
Na aritmética dos políticos brasileiros, dividir vem antes de somar.
São todos protegidos pelo anjo pornográfico Nelson Rodrigues e poucos, os conterrâneos de Otto Lara Resende.
Nem burros para serem unânimes, nem tão mineiros na solidariedade, mesmo em doença pior que câncer.
Nunca é bastante a divisão que se aprofunda a cada eleição.
É preciso rotular e carimbar as faces pintadas de guerra.
Avessas, reversas, adversas, contrárias.
Ninguém é favorável a coisa alguma.
Depois de quatro anos de solitária introspecção, dedicado a observar de longe, sem poder interferir, os rumos da caravana que já ajudou a tanger, o ex-deputado Eduardo Cunha, em sua primeira entrevista depois da longa ducha curitibana, já antevia com olhos de menino, a nudez de nossa pobreza d’alma e de quadros dirigentes.
Se em 2018, o contra venceu o a favor; quatro anos depois, foi o contra contra contra.
O parlamento eleito na diversidade de opiniões, para estabelecer consensos e leis justas, na multiplicidade de partidos, não sabe viver sem o antagonismo sectário.
Sem linhas divisórias, sem zona neutra, sem um centro (apesar dos aumentativos ilusórios), que sirvam de referência ou ponto de equilíbrio e partida para um destino menos sombrio.
Na floresta do planalto, anda solto um espírito do mal que atrai quem nela ingressa, oferecendo abrigo, conforto e proteção.
Na estalagem de dois cômodos, o cruel anfitrião escolhe onde o viajante vai dormir.
Nas camas de ferro, o hóspede tem de se encaixar em medidas exatas.
Dos grandes, cortam-se pés e cabeças.
Esticam-se os pequenos, até que se rompam.
Na mitologia grega, encantam-se exemplos e modelos.
O desafio é descobrir na multidão de iguais, quem vai empunhar as armas de Teseu.
Alguém que prenda os Procustos em seus leitos e os deixem acéfalos e inertes.
Que os façam provar dos próprios venenos.
Alguém que encontre o caminho certo, sabendo que mais à frente terá que desafiar outros monstros.
São muitos os minotauros perdidos nos labirintos das mazelas nacionais.