PRINCESAS EM APUROS
O isolamento social, a suspensão das aulas, os pais transformados em professores e o bombardeio de estímulos eletrônicos, podem transformar as crianças da pandemia.
O universo onde a fantasia as conduz por fantásticas aventuras, sofreu uma explosão, foi expandido e trará consequências.
Mesmo próximos, habitando suas fronteiras, aos adultos não são concedidos passaportes.
A entrada no país do faz-de-conta não é permitida nem aos de idade prioritária, já vacinados.
Constroem castelos, plantam bosques e penduram nos céus, estradas que levam carruagens e naves espaciais por distantes reinos e galáxias.
Na plataforma do mesmo trem, viajantes que chegam, trazem na bagagem, sentimentos e emoções traduzidos na linguagem do bem contra o mal.
No eterno conflito entre a força e a astúcia, os fracos ganham dos arrogantes, a luta desigual. E triunfam.
Por mais variedade de cores, e efeitos especiais, o que se procura, é um mesmo padrão de comportamento que sirva de modelo para a vida toda. Noções de justiça e igualdade, aplicáveis às situações futuras.
Com profundas mudanças, os tempos modernos têm desenhado uma configuração familiar mais diversificada.
O rabisco de jardim de infância com o pai, mãe, filhos e cachorrinho já não representa todas as formações.
O convívio com coleguinhas que têm dois pais, duas mães, um só ou mais de dois, é aceito sem questionamentos, até que a censura, em casa, vire preconceito.
O primeiro beijo gay em desenho animado voltado para o público infantil, tem pouco mais de um ano. Teria sido visto com naturalidade e no contexto do enredo, se não tivesse gerado tanta discussão e lucro para os crescidos.
As aventuras clássicas vão sobreviver a todas as adaptações e continuarão a ser interpretadas de maneira peculiar e única.
Sobreviverão à intolerância que desconsidera os costume da época de quando escritas, para exigir agora, adaptações a modelos ideológicos.
A magia não tem fim.
Muralhas que surgem do nada, continuarão protegendo as cidadelas cheias de maravilhas, mistérios, sensações e sentimentos.
Sem limites, nem divisas, uma dessas histórias começou no Reino da Dinamarca e Noruega, contada pelo mago Hans Christian Andersen, passou pelos estúdios Disney e está sendo adaptada ao friozinho da serra gaúcha.
Aos três anos, a Princesa Laura fez do sofá da casa, um fabuloso castelo onde costuma receber sua colega, a Princesa Elsa de Arendelle e séquito.
Para esquecer o frio maior e os espelhos do castelo de gelo onde esteve prisioneira por séculos, no corpo da terrível Rainha da Neve, era o lugar certo para voltar ao time dos bons.
Quando estavam reunidos em festa, para espanto dos enamorados Kai e Gerda, ao lado da anfitriã, um enorme corpo vindo das alturas, provocou um terremoto que poderia ter causado tragédia sem tamanho.
A descuidada mãe da vida real havia sentado na boneca Frozen.
A plebeia trapalhona não deixou de receber a autoritária reprimenda principesca:
–Eu já disse pra você ter cuidado com as princesas. Você acha legal, sentar em cima das pessoas?