27 de abril de 2024
Nota

Professor da UFRN pesquisa na China origem de vulcões do Cabugi e outros do Nordeste

O professor Zorano Souza, do departamento de Geologia da UFRN, quer saber se as erupções eram explosivas como as do Vesúvio, na Itália, ou se elas escorriam lentamente, como acontece no Havaí, nos Estados Unidos.

Ele está na China para desvendar vulcões que existiam onde hoje é a região Nordeste do Brasil.

— Rochas vulcânicas derivam de magmas (material rochoso em estado de fusão em alta temperatura proveniente de grande profundidade da Terra) que podem se comportar de modo mais tranquilo ou explosivo durante a erupção. Este comportamento diferente depende de características químicas do magma: rico em magnésio e pobre em vapores de água e silício no caso do Havaí; rico em silício e vapores de água e pobre em magnésio como no Vesúvio — explica o especialista.

As atividades vulcânicas mais antigas no Nordeste brasileiro ocorreram há 130 milhões de anos.

Nesse momento, esse território ainda estava ligado ao que hoje é o continente africano. As erupções mais recentes têm dois milhões de anos, ainda assim muito antes de qualquer civilização humana.

Apesar de ter acontecido num passado muito distante, elas deixaram traços notáveis na geografia dos estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, como os corpos vulcânicos em Angicos (Pico do Cabugi, Cabugizinho da Arara, Carcarazinho), em Pedro Avelino (Serra Aguda), em São Tomé (Serrote Preto) e em Cerro Corá (Serra Preta), todos no Rio Grande do Norte.

Até hoje, foram identificadas cerca de 100 a 150 ocorrências de vulcanismo no Nordeste, principalmente na faixa entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba. No entanto, o pesquisador tranquiliza os moradores.

— São todos vulcões ou raízes de vulcões extintos. Não mostram qualquer tipo de atividade sísmica em profundidade, o que elimina a chance de voltarem a ser ativos — explicou o pesquisador.

Por estar completamente sobre uma placa tectônica, o Brasil não sofre com vulcões ou terremotos devastadores.

No passado, explica Zorano Souza, o planeta era mais quente em algumas regiões, podendo ocasionar a formação de magma no interior da Terra. Uma vez formado, este material pode ficar preso em profundidade ou migrar até a superfície, formando as rochas vulcânicas que são encontradas até hoje.

— Com o transcorrer do tempo geológico, tais locais voltam ao equilíbrio termal (ou seja, resfriam) e deixam de produzir magmas — explica o pesquisador.

Equipamento de ponta

Para realizar a pesquisa, o professor Zorano precisou de apoios diversos. A primeira etapa foi de coleta de amostras dos materiais, o que contou com dinheiro do CNPq, FINEP-Petrobras, Departamento de Geologia e Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica da UFRN, Instituto de Geociência da UnB e Ciências da Terra da Universidade de Queensland (Austrália). Já a ida à China para desenvolver a parte experimental teve patrocínio da Universidade de Geociências da China, Faculdade de Recursos da Terra, em Wuhan.

Lá, a instituição possui equipamentos de última geração no que se refere a experimentos com simulação de altas temperaturas (de 1.000 a 1.700 °C) e profundidades (de 100 a 250 km). Todos estes laboratórios estão na mesma estrutura física, um prédio recém-construído dentro do novo campus da universidade.

No Brasil, segundo Zorano Souza, somente a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem laboratórios capacitados para realizar estudos desta natureza.

— A expectativa é estimar em que condições de temperatura e profundidade se formaram os magmas que deram origem às rochas vulcânicas da Região Nordeste. Tais informações auxiliarão a entender como se comportava o interior do planeta nesta parte que hoje é o Nordeste do Brasil. — afirmou Zorano. — O vulcanismo faz parte intrínseca da trajetória de evolução do planeta, e, além disso, as ocorrências de rochas vulcânicas podem estar associadas com a formação de depósitos minerais de valor econômico ou estratégico. Nesses pontos, o conhecimento sobre o vulcanismo tem forte impacto para a sociedade.

Fonte: O Globo 

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